quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O tamanho de uma trágedia


                                    "A nossa maior tragédia e não saber o que fazer da vida"

Muito se debate sobre as recentes tragédias ocorridas em Mariana ou na afamada Paris. Muito se discute o quanto a mídia se importa mais com um ou com o outro. Se você defende a importância do desolador derramamento de lama na cidade mineira você é um nacionalista que não se importa com as consequências do terrorismo pelo mundo. Se você defende as causas e circunstâncias do ataque aos franceses torna-se um traidor da pátria, alguém que só defende as elites. Se você se cala é tachado de covarde por se omitir diante dos problemas do mundo.

Vendo por uma ótica diferente não há tragédia grande, pequena ou média, as consequências sim podem ser desoladoras. Devemos passar a parar de debater quem ou que é maior, para passar a observar que cada vez mais nos deparamos com tragédias diárias que não damos ouvidos.

Ambientalmente falando a situação do Rio Doce é caótica desoladora, mas certamente vai haver uma garota no mundo depressiva por não ter dois quilos a menos ou por que o garoto popular da escola não lhe dá bola. Certamente vai existir um cara desejando que o estado islâmico derrube a torre eiffel que não fará diferença desde que ele possa descer dois combos de bebida para as garotas cercarem sua mesa na balada do fim de semana.

O tamanho de uma tragédia vem de acordo com a importância que se dá, vem do fato que você pode ou não ser afetado. É triste ver que crianças sírias morrem em retaliação aos ataques a capital francesa. Certamente eles não sabem bem o motivo de serem atacados, mas seus nomes serão apenas mais um entre tantos mortos em prol de interesses bem maiores.

Seria tão bom que ao invés do mundo sendo bombardeado de ataques por todos os lados obtivessemos um consenso, uma convenção que determinasse o respeito mútuo entre os povos, onde a paz reinasse. Seria utópico pensar assim?

Por que diante das tragédias preferimos nos penalizar após elas acontecerem ao invés de previamente nos precaver e manter uma sociedade limpa e decente para nosso filhos e futuros donos do novo mundo.

Que nos perdoem os mineiros de Mariana e os franceses de Paris, mas há milhares de crianças africanas morrendo a todo momento de fome e inanição, há diversos morrendo nas estradas esburacadas brasileiras enquanto os impostos são cobrados de forma indevida para as estradas que deveriam ser como um tapete para nossos carros cada vez mais caros.

Tragédias existem para nos mostrar que o mundo não é apenas doce como mostramos a nossas crianças dentro de um desenho infantil, mas sim que o mundo apesar de todas suas milhares de maravilhas tem problemas. Aqui falta comida, falta água, ninguém é justo ninguém é perfeito e julgamos as pessoas desde o momento em que botamos o pé fora da cama até o momento em que fechamos os olhos em nossos travesseiros.

Que o mundo seja um lugar melhor para todos, onde possamos defender os nossos interesses e evitar nossas tragédias pessoais de conturbar as tragédias alheias. Mas que de certa forma possamos ser todos juntos pessoas melhores sem essa necessidade absurda de debater quem é melhor ou pior do que o outro, quem sofre mais, quem sofre menos.

Um pai perde um filho a cada minuto pelo mundo, filhos perdem os pais segundos atrás de segundos por aí, mulheres perdem namorados, garotos perdem sua vida em seus carros importados,fazendo seus pais chorarem por teoricamente terem vacilado em seus ensinamentos. Quem é o culpado?

Não há maior ou menor, não há quem sofra pelo outro o tanto que sofre por si mesmo. 

Tragédias não vão deixar de existir em nossas vidas,não vão deixar de habitar a vida alheia. Não vamos deixar de abrir os jornais ou páginas da internet e ler sobre chacinas, assassinatos, acidentes trágicos, pessoas não famosas se vão, ídolos com a imagem de ícones da revolução serão apontados, mas acredite se só temos a certeza que o mundo não é um lugar ruim, apenas mal frequentado.

Só se tem a certeza sobre a morte, para todo o resto se dá um jeito, brasileiro, francês, africano, não há fé, classe social ou cor que defina a importância de uma tragédia, vidas se perdem e isso não podemos negar. 

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