quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Pv Pergunta.doc (Line Lú)


















(Dizem por aí que não existem perguntas totalmente certas ou tampouco respostas totalmente erradas,pensando nisso decidi sair perguntando por aí para conhecer boas histórias através de boas e más respostas.O Pv Pergunta vai buscar diferentes pessoas que se dispuseram a falar com o blog e contar as suas histórias sem qualquer custo. A todos o meu MUITO OBRIGADO)


Quem é : Line Lú


Aline Luísa ou simplesmente Line Lú é proprietária do estúdio Arsenal Tatuaria onde a mesma exibe em suas tatuagens minimalistas toda a sua arte.


Aline é também dona de um carisma e rapidez de raciocínio que impressionam a quem tem o prazer de conviver com ela e conhecendo a sua autenticidade para levar a vida e sua personalidade forte para encarar os percalços do dia a dia.



O trabalho de um tatuador é muitas vezes visto com certo preconceito tendo em vista que para os mais conservadores a tatuagem tem efeitos sobre a personalidade e sobre o caráter de uma pessoa. Esse pensamento tem se tornado algo cada vez mais ultrapassado ou isso ainda perdura na maioria das pessoas?

Vem sim se tornando algo retrógrado. Eu fico espantada (positivamente) e feliz ao ver quantas pessoas mais velhas, de gerações anteriores, estão decidindo fazer sua primeira tatuagem. Muitas delas acompanham os filhos para fazerem companhia. Hoje em dia, a imagem vandalizada da tatuagem vem se desfazendo a cada dia mais. 

No começo do ano de 2015, você começa como você mesma diz a descobrir e a fazer aquilo que você queria ser quando crescer. Como começou essa empreitada e que tipo de preparação você fez para começar a tatuar?

Então, eu sempre gostei de fazer tatuagens, sempre que sobrava um dinheiro eu estava à procura de um tatuador. Um dia eu sonhei que era tatuadora e uma amiga me questionou por que eu não entrava nessa. E então eu decidi que não custava nada tentar. E desde então se tornou a “profissão dos meus sonhos” mesmo que eu ainda não soubesse disso antes de, literalmente, ter sonhado com isso. Eu comecei treinando em pele de porco e assistindo vídeos online. Logo em seguida fiz um curso e alguns workshops para aprimorar na área.

Eu imagino a senhorita chegando no Açougue e pedindo a pele do porquinho e os caras: Pra fazer bacon e você responde: Não vou dar umas riscadas,mas vai dar tudo certo

(Muitos Risos)Eu fazia questão de contar que era pra tatuagem só pra ver a cara do povo

Mas os caras vendem só a pele? Nem sabia

É toucinho. Eles vendem picado mas eu pedia inteiro

Até pra poder ter mais espaço para poder tatuar

Exatamente (Risos)

Em geral quando o tatuador ainda está começando ele não se orgulha tanto dos seus traços. Teve algum momento em que você ainda não curtia o seu modo de tatuar a ponto de buscar cada vez mais se aprimorar naquilo que faz hoje e em que momento você de fato se viu como uma profissional competente do ramo?

Então, eu vejo muita evolução em meus trabalhos, mas como eu e meus amigos tatuadores costumamos dizer: nunca estaremos satisfeitos com nosso trabalho, sempre estaremos buscando melhorar. Eu me considero profissional pela forma que trabalho e por essa ser minha exclusiva fonte de renda, no entanto, meu caminho ainda está só começando

Você lembra qual a sua primeira tatuagem em uma pessoa?

Lembro, foi na Nayara minha prima. Fiz uma hashtag que virou uma couve flor de tão estourada que ficou (Muitos Risos) mas, eu não tinha pegado nenhum curso na internet nem treinado em pele de porco. Foi mais uma brincadeira

Nayara não deve ter ficado tão feliz com a tatuagem toda estourada

Nada menino, já insisti pra ela cobrir. Ela falou que tem valor emocional nela por que uma pessoa que ela gostou muito brincava com ela dessa tattoo

Fora essa teve alguma outra que chegou a dar literalmente errado?

Teve uma frase que fiz no meu irmão que esqueci de colocar a gominha na máquina. Aí ficou tudo torto na costela.

Tá lá torto até hoje?

Sim. Mas as letras são pequenas, tá bem clarinho. É fácil cobrir. Só que ele fica enrolando. Eu que olho pra ele com vergonha toda vez que ele tá sem camisa. Mas num geral a gente sempre reclama dos próprios trabalhos por que é quase impossível atingir o nível que a gente almeja né.

Qual foi a mais difícil que você fez até hoje?

To tentando pensar. Ah lembrei.Sem duvidas foi um terço rodando a coxa. Por que as bolinhas tem quantidade específica de bolinhas. E pra deixar tudo proporcional ao tamanho da coxa dela de forma que as bolinhas fechassem a conta certa, levamos muito tempo pra desenhar

É fato que a tatuagem de qualquer forma vai doer,contudo é uma dor tolerável e para alguns até mesmo uma dor prazerosa. Existem lugares onde a tatuagem vai doer mais? E tiveram casos onde você preferiu não fazer a tatuagem, seja por que o cliente desistiu no meio ou por quê não seria num lugar ideal?

Acredito sim que existem alguns lugares no corpo onde tenha sensibilidade maior, mas, acredito ainda mais que a dor é muito relativa. Alguns clientes costumam reclamar muito da costela, outros dizem não sentir nenhuma dor anormal.Já aconteceu do cliente desistir no início de uma tatuagem, mas voltar depois, mais calmo, para me deixar terminar o procedimento. E ainda sim saíram super satisfeitos

Sabe-se que para tatuar o uso de anestesia é de certa forma prática ilegal da medicina, isso reforça as precauções a serem feitas antes de se fazer a tatuagem e os cuidados com o estúdio onde se fazem as tatuagens. Que tipo de recomendações você faz hoje aos seus clientes,antes,durante e depois da tatuagem e que tipos de cuidados com higiene e limpeza você tem e que todos os tatuadores devem ter para se certificar que o local é seguro para se fazer a tatuagem?

A primeira coisa que recomendo para alguém e certificar que todos os materiais usados são descartáveis. Como agulhas, biqueiras, batoques, luvas, etc.Após a tatuagem concluída, o cliente deve evitar sol, alimentos remosos, não se deve coçar a tatuagem e deve-se manter o local sempre limpo e hidratado com auxílio de pomada ou vaselina

Como em todo ramo os tatuadores convivem com profissionais de alto gabarito,mas também com profissionais que não seguem todas as convenções e exigências práticas para se fazer as tatuagens em segurança. Há inclusive vídeos no Youtube onde tatuagens são feitas no meio das ruas de Belo Horizonte sem qualquer circunstância de limpeza ou higienização. Até que ponto esses profissionais ruins atrapalham quem trabalha sério no ramo de tatuagens e hoje quem são suas influências no ramo que fazem você admirar ainda mais o seu trabalho? 

Profissionais ruins podem atrapalhar na valorização dos trabalhos de bons profissionais. Um exemplo disso é a diferença de preço que é cobrado entre um e outro. Diversas vezes o cliente deixa de fazer tatuagem em um bom profissional por achar caro demais. Consequentemente fazem tatuagem as quais não trazem resultados satisfatórios e isso pode generalizar e manchar a imagem de outros profissionais. Existem varias tatuadores excelentes em que me espelho, vou citar um que gosto muito, apesar que não seguimos a mesma categoria. Chico Morbene, divo do realismo! (Risos)

Você hoje trabalha mais com tatuagens minimalistas, em geral com traços menores e mais delicados,mas ao mesmo tempo já afirmou que prefere que os clientes tragam suas artes para serem tatuadas. Já teve casos onde você bateu o olho em um desenho e pensou: "Esse não vai rolar" ?

Sim, acontece com muita frequência de duas formas: às vezes o cliente aparece com uma arte de proporção grande querendo tatuar em um tamanho reduzido de forma que não de para reproduzir. Outra forma acontece do cliente orçar uma arte que eu não me sinto preparada para executar. 

Nós dois casos, eu converso, explico a situação, e eles são totalmente compreensíveis com a questão. Muitas vezes trocam a arte ou aceitam sugestões.

Anteriormente as tatuagens eram em geral feitas em locais mais comuns como ante braço,pernas,peito e costas, existem hoje locais onde você prefira fazer a tatuagem ou já chegou na fase onde tatuar pescoço,por dentro da boca, olhos e outros lugares menos convencionais já não te espantem mais? Atualmente qual a tatuagem mais louca que você já fez?

Existem regiões do corpo mais fáceis de pigmentar, que tenham a superfície mais plana, facilitando assim o procedimento. Esses lugares sempre serão os que mais vão me agradar. No entanto, já não me assusto mais com as escolhas de regiões inusitadas. 

A tatuagem mais louca que eu costumo dizer que fiz, foi as palavras “seu nome” na nádega de uma cliente. Ela tinha suas razões. (Risos)

É fato que as pessoas vivem dias bons e dias ruins.Casos de cansaço ou nervosismo do tatuador e até mesmo do cliente atrapalham o andamento da tatuagem ou dá pra chegar e fazer dez,vinte ou mais tatuagens ao dia de boa?

Sim, principalmente em minha fase inicial, meu nervosismo me atrapalhava muito. Acontece também de clientes inquietos atrapalharem, mas a prática nos da segurança e com isso essas ocasiões ocorrem cada vez menos.No meu caso, que trabalho com minimalismo, acontece de fazer diversas tatuagens ao dia, pois todas são rápidas e não são tão cansativas. Mas acredito eu que em casos de tatuagens maiores e mais detalhadas, o corpo deve exigir mais tempo de descanso, dificultando assim diversas tatuagens em um único dia. Não que seja impossível, mas que não seja tão comum.

Da mesma forma que ainda há um certo preconceito com quem faz ou com quem tem tatuagens, há também uma aceitação grande por uma boa gama de pessoas. Você hoje é mãe de dois filhos, que por óbvio convivem muito com esse meio e que podem se interessar ou não pelas tattos muito cedo. Na sua visão há uma idade certa para que se comece a ter tatuagens ou isso depende muito de pessoa a pessoa?

Na minha (única e exclusiva) opinião, existe sim idade ideal para se começar a tatuar. Eu pretendo conversar bastante com meus filhos e permitir a partir dos 18. Os jovens tendem a mudar de opinião com muita frequência e gostam muito de se expressar sobre tais. Uma tatuagem que hoje representa sua personalidade amanhã pode não fazer mais sentido, trazendo assim desconforto em tê-la. Claro que isso pode ocorrer em qualquer idade, mas eu acho que na adolescência isso é mais frequente.

Hoje em dia para se ser tatuador não é exigido um nível de escolaridade ou formação específica o que no entanto não diminuí o trabalho,o estudo e a dificuldade do seu trabalho. Sendo hoje uma trabalhadora autônoma que conseguiu sucesso no ramo, você vê diferenças entre o seu trabalho que é algo artístico, de renda variável e que tem um valor a ser definido por você daqueles trabalhos comuns onde a pessoa já vai certa de que vai receber esse salário ao fim do mês e vai trabalhar "x" horas por dia?

Isso pode variar muito. Conheço tatuadores que tem carrões do ano, viajam o ano inteiro para o exterior, vivem um conforto excepcional somente com a renda das tatuagens. Conheço pessoas formadas em curso superior também que trabalham mais carga horária e não obtém um nível de vida tão amplo. No entanto, existem profissionais graduados que ganham um salário muito acima que varias tatuadores. Tudo é relativo. Mas se você me perguntar se eu penso em mudar de área, definitivamente a resposta seria “Não”.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Excesso de intensidade



Muito se vive no oito ou oitenta,aquela postura extremista onde ou as coisas são boas ou não. Viver assim talvez não compense na maioria das vezes e muitas vezes a necessidade incomum de se obter estímulos faz com que a pessoa que vive  através da sua intensidade acima do limite busque sempre alternativas para sentir o limite, o extremo.

A todo tempo se parece estar sobre o fio da navalha, amor e ódio se misturam,prazer e dor se assemelham, tudo é motivo para que se sinta ao máximo,para que se excite todas as sensações ao limite.

Muita gente acaba crescendo sobre a aura de intensidade,daquelas que mergulha de cabeça nas novas emoções mesmo que elas não ofereçam segurança alguma e mesmo assim passemos a insistir com aquele combustível que parece nos manter vivos.

Vai demorar até percebermos que nem todos são iguais, nem todo mundo segue a mesma vibe e acaba que muitas vezes os intensos serão os primeiros a se morrer na praia, os primeiros a se perder nas suas expectativas.

Qualquer tipo de relacionamento humano, seja lá qual for, namoro,amigos,família,colegas de trabalho, tudo se tornava uma competição pessoal, uma guerra contra si mesmo e contra todos onde apenas a vitória interessa, onde ela é a opção única mesmo que venha através do cansaço alheio ou da pura satisfação pessoal de vencer algo ou alguém.

Contudo para os outros essa necessidade de vencer se torna egoísmo, alter ego de ansiedade que transforma o "vencedor" num monstro de medos e inseguranças afloradas. É aí que nos auto prejudicamos. É nesse ponto que passamos a arcar com as consequências de nossas próprias convicções.

Nessas horas é preciso retroceder, se analisar a fundo e responder aquelas questões que não se queria obter resposta,mas que eram necessárias para que feridas antigas cicatrizassem e deixassem de arder diariamente.

A euforia e a vontade de vencer não deixará de existir e nem deve, seguir em frente é um "mal" necessário sob todos os aspectos. Só que hoje a ansiedade e a gana satisfatória de vencer sempre e ir sempre além está ali num cantinho,presente,mas aparecendo apenas vez ou outra,sem dominar as ações.

Temos de nos conhecer acima de tudo,saber que vez ou outra a paciência vai para as cucuias e que vamos nos nos exceder dos limites, mas que fazer isso sempre e sempre acaba por nos fazer mal.

Mergulhar de cabeça não fará as coisas se resolverem mais rápido ou eu ir mais longe,mas apenas me atirará rumo ao desconhecido de modo que eu tenha um caminho muito maior para retornar. 

Cada qual tem o seu fardo do tamanho propício, não vale a pena investir num fardo que seja ainda maior do que o que se pretende carregar. A vida cobra muito e mesmo que paguemos o alto preço o troco é sempre devolvido com a mesma moeda.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Medos Infantis



Você pode não se lembrar, afinal como dizem por aí ainda não nos entendiamos por gente e talvez não compreendêssemos o tamanho das coisas e o quanto pode ser  grandioso ou pequeno aquilo que vemos diante de uma perspectiva infantil.

Lá atrás,pequenos, inocentes e sedentos por aproveitar a vida tínhamos medo de coisas substanciais, coisas que não se sabe ao certo se existe ou não,mas que para nós pode fazer jus ao rótulo de pior pesadelo.

Já imaginou quantas vezes nossas mães nos faziam temer o bicho papão,o homem do saco,ficar torto quando bater o vento, entre outras coisas teoricamente inocentes e inexistentes em nossas vidas.

Ao crescer percebemos que podemos temer coisas mais reais, mas ao mesmo tempo nem tão palpáveis assim. Passamos a temer o fim da vida, perder coisas e pessoas que possam nos acompanhar pelas nossas vidas e que antes víamos como um ser além do fator vida e morte.

Quase como super heróis corríamos pelo mundo sem temer machucados,quedas,obrigações que para uma criança deixam de existir devido a pouca idade que ainda tínhamos.

Com o tempo a mais em nossas vidas ganhamos mais liberdade é obvio, mas também ganhamos mais medos assim como responsabilidades.

Passamos a ser nós os teóricos pseudo heróis imortais de nossos pequenos, dos pequenos dos outros e assim vamos ganhando aquela ilusória aura de imortalidade que hoje mais velhos e mais cientes do mundo,sabemos não existir.

O que antes era grande,forte e vigoroso pode já não ser mais tão aterrorizador assim, embora claro fobias possam ser reveladas tal qual uma garota que teme baratas,lagartixas entre outros "pequenos monstros" existentes em nossa rotina.

Eu temeria mais os boletos que me chegam e se acumulam, talvez mais ainda temeria a falta de condições de paga-los e assim ir perdendo o controle que antes eu nem sabia que poderia ter diante de minha própria vida.

O mundo é dos corajosos. Até por que é preciso muito coragem para se viver por aqui, mas há quem diga também que os covardes vivam mais.

Se arriscar,enfrentar os medos é por vezes necessário, conduta obrigatória para que possamos superar expectativas que nem imaginávamos ter e caminhar passo a passo rumo ao nosso sucesso pessoal.

O medo de errar nos prende, medo que antes talvez não tínhamos, talvez não nos era imposto.Mas que hoje é real,diário,presente em nossas vidas de forma massiva e muito mais aterrorizadora do que quando éramos apenas crianças sedentas por viver.

Viver alias nunca foi e nem nunca será um mar de rosas, seja para nossos tempos de criança,seja para agora,adultos responsáveis e viventes, seja para nosso progresso de vida em encontro com a velhice. O que muda apenas é a perspectiva,a forma de ver o mundo e seus desafios.

A vida é feita de desafios, desafios que se não enfrentados não nos permitirão de fato viver a vida, não nos permitirão obter novas oportunidades, não nos farão fazer a vida valer a pena.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A importância dos inutéis



O mundo de hoje nos exige um padrão. Uma forma didática e simplória de fazer e realizar de acordo com as convenções pré estabelecidos e aí de quem fugir dessas "regras". 

Tudo aquilo que é mantido dentro de um padrão ou de uma aceitação em comum da sociedade acaba por ter o seu valor aumentado,enquanto tudo aquilo que não é padronizado ou aceito como dentro do comum acaba por ser decretado como inútil, irrelevante.

A vida acaba por seguir uma linha dentro do padrão. Retilínea, ela vai conduzindo todo o seu afago até onde possa se estender. Afago esse que não é reservado ao inutilismo de certas coisas e pessoas,estes estão apenas prontos a todo instante para nos rememorar a obrigação de seremos uteis ou de realmente para servir de alguma valia pela vida.

Em outras palavras, vivemos a margem de oito ou oitenta onde ou se é claramente útil para a vida de outras pessoas ou não se é útil de forma alguma. Logo coisas que não tem serventia clara para a vida das pessoas passa não só para um segundo plano,mas para uma renegação não valorizada daquilo que não possa ser útil.

Contudo, devemos entender que não podemos ser formais o tempo todo, não podemos nos deixar padronizar a todo instante e que muitas vezes é preciso escapar pela tangente, fugir um pouco da curva que nos coloca dentro da reta concreta que define o padrão a se seguir.

É preciso um pouco mais de leveza para por exemplo, falar sobre algo despretensioso, algo irrelevante para muitos,mas que pode nos fazer esquecer toda a formalidade exigida pelo mundo.

Ao fugir da reta e pegar a curva mais próxima do nosso não formal, passamos a nos moldar para a exclusividade, para aquilo que nos torna pessoas únicas no mundo e não para uma geração de massa, robôs sem expressão e vontades próprias.

Para ser diferente é preciso inovar,mudar e obviamente se mexer. Ficando a deriva do reto e padronizado deixamos de fazer aquilo que pode revolucionar o mundo ou apenas mudar um momento cinza para um momento colorido.

De que me adianta ter algo caro e valorizado, se todos também terão. Onde está a exclusividade de se ter algo que ninguém tem? Onde está a raridade de se viver um momento em que eu deseje futuramente contar aos meus netos?

A nossa vida deverá ser importante,recheada de bons e maus momentos que serão guardados em nossas memórias rapidamente já que logo ficarão no passado a ser apenas relembrado mais adiante. 

Quero ser feliz nas coisas pequenas,ciente de que em breve tentarão me padronizar mais uma vez. O mundo não precisa de mais padrões, eles já estão aos montes permeando tudo aquilo que acreditam que deva ser etiquetado. É preciso mais inutilidade para que possamos aproveitar e explanar tudo aquilo que o mundo nos oferece.

Presos a bolha daquilo que é apenas padronizado e empurrado em nossas gargantas jamais poderemos ver o mundo do lado de fora. Saía para ver o sol e aproveite o seu calor.  

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

PV Pergunta.Doc (Túlio Montenegro)


















(Dizem por aí que não existem perguntas totalmente certas ou tampouco respostas totalmente erradas,pensando nisso decidi sair perguntando por aí para conhecer boas histórias através de boas e más respostas.O Pv Pergunta vai buscar diferentes pessoas que se dispuseram a falar com o blog e contar as suas histórias sem qualquer custo. A todos o meu MUITO OBRIGADO)



Quem é Túlio Montenegro


Chef Túlio morou por cerca de dezessete anos nos Estados Unidos onde trabalhou com a culinária de diversos países, motivo esse que seu restaurante o Chef Túlio Internacional Butikin passeia por petiscos e pratos de todos os gostos regados a simpatia de seu dono.



Você começou muito cedo na cozinha até por influência italiana dos seus avós e logo após se formar em comunicação abriu um bar que foi fechado para que você seguisse para o exterior onde adquiriu toda essa rodagem até voltar para BH e iniciar primeiro um restaurante muito chique para depois fazer o meio termo que acabou se tornando um sucesso. Ao longo desses anos o público que frequenta os bares e restaurantes,principalmente aqui que é a capital dos botecos se modificou muito. Quais os principais aspectos que você vê daquela clientela de bar que você tinha antes de tentar a vida nos Estados Unidos para a clientela de agora que você tem no seu restaurante?

A diferença maior creio ser o satélite que a inteligência humana desenvolveu e posicionou de forma a não haver distâncias "culinárias" entre este mundão que Deus criou. Para ser mais claro não existe falta de conhecimentos sobre a gastronomia mundial.

Você tem uma experiência com a cozinha internacional até mesmo por ter morado por um bom tempo fora do país, logo conheceu tanto ingredientes,quanto temperos que possam surpreender e desagradar quem não conhece. Hoje após tanto tempo no comando das panelas há algum prato que você não se arrisca ou algo que você já tentou por algumas vezes e não gostou do resultado?

Para se tornar um profissional de cozinha é necessário que para se produza uma iguaria de outras etnias o sabor esteja na memória gustativa de quem vai preparar. Não adianta simplesmente seguir uma receita. Portanto posso produzir com segurança o que já provei, produzido por quem tenha conhecimento real da história,cultura,sabores e como preparar.

Ao longo de sua vida culinária você conheceu diversos temperos Brasil afora e até mesmo do exterior,mas se encantou de uma forma especial pelas pimentas onde você é inclusive palestrante com o tema: "Pimentas Capsium Annum",de onde veio esse interesse em especial pelas pimentas?

Quando tive a minha estadia no Estados Unidos conheci e convivi com uma dupla formada por um mexicano e um peruano que durante alguns momentos de relax após uma pelada (futebol) nos reuníamos para umas brejas e eles sempre levaram várias sementes desidratas e com elas tirávamos o gosto. Realmente eu não tinha o menor conhecimento de pimentas a não ser a que usávamos aqui nas nossas Minas Gerais,malagueta,cumari e de bode. Comecei a provar cada uma que me foi apresentada e foi amor na primeira ardida. Trabalhava como cozinheiro em um haras e a patroa era amante de uma ardência, com isto foi um pulo para começar a me inteirar-me sobre as CAPISIUM ANNUM. Nos USA o consumo de pimenta chega a ser maior que no Peru e no México e para se ter conhecimento sobre as mesmas é fácil pela quantidade de sites,livros e publicações pessoais sobre a mesma.

Diz o ditado que o olho do dono que engorda o gado,logo muitos donos de bares e restaurantes, isso não só em Belo Horizonte, cuidam com afinco de seus locais de trabalho. Você é muito elogiado pela simpatia frente aos clientes,além claro da boa comida. Sendo você formado em comunicação social isso ajuda a criar um estilo diferenciado de se comunicar com o freguês,de ter as vezes um adereço como um brinco ou um estilo próprio de cozinhar?

Bom o brinco(faca,colher e garfo) foi presente da minha esposa Maria do Carmo Barbosa(melhor conhecedora de uma boa receita) quando morávamos em Charlottesville (USA) no ano de 1985,1986,mas por ser descendente de ciganos já tinha a orelha furada desde a minha juventude. A escola de comunicação me ensinou algumas técnicas a serem usadas na abertura do meu primeiro estabelecimento, nos idos dos anos setenta. Creio que o fato de ir as mesas tem muito a ver com o curso de RP (Relações Públicas) no qual me formei,por que quem tem que ser a estrela de qualquer negócio é e sempre será o cliente. Ir a mesa denota cuidado e carinho ao comensal.O mundo é redondo (oval) e é pra frente que se anda. Quando retornei ao Brasil tinha um conhecimento culinário extenso por ter trabalhado quinze anos nos USA com oito diferentes etnias.Montei um buteco que poderia dar conforto, principalmente a ala feminina que pouco frequentava esse tipo de negócio(por falta na época de estrutura físico,funcional e atendimento) A nossa BH era e continua sendo ávida por bons tira gostos e propus isso oferecendo variedades internacionais a preço de buteco.

Como Chef e também como dono de restaurantes de Belo Horizonte você faz parte de um grupo tido como tradicional dentro da cidade e do estado e hoje vemos uma infinidade de novos chefs que chegam implementando novas culturas a gastronomia aos bares e restaurantes da cidade e trazendo para cá a chamada gourmetização. Por outro lado ao trazer para BH uma mistura entre pratos requintados e a vasta culinária mineira você já fazia lá atrás esse processo de gourmetização. Há diferença entre os dois processos ou é caso apenas de épocas distintas e novos meios de comer bem?

Não gostaria de ser visto como um cozinheiro tradicional,(nada contra quem é ou gostaria de ser), por que novidades fazem parte da alimentação fora do lar. São muito bem vindos todos os que labutam nesta difícil profissão seja em qualquer parte de uma equipe de brigada de cozinha. Não gosto da palavra "Gourmetização", "Momento criativo" seria bem melhor ao meu ver.

Muito se fala que certos pratos sofisticados são mais para se comer com os olhos do que propriamente para saborear a comida,até por isso seriam pratos para degustação e mais voltados uma apresentação muito bonita ao invés de um sabor marcante. O que é mais importante para se comer bem, a apresentação do prato ou o sabor da comida?

Come-se com todos os sentidos. Uma bela apresentação de uma receita sendo servida ao comensal com elegância pelo camareiro (garçom),uma mesa posta com elegância, o aroma sentido quando dá a chegada do alimento, a textura ,o ponto do cozimento,a bebida que harmoniza,etc,etc, tudo faz parte do apreciar e não somente o visual e o sabor.

Muitos chefes de cozinha tem um certo receio de passar receitas ou de ensinar os pratos que fazem em seus restaurantes. Você muitas vezes participou de eventos com a chamada "cozinha aberta", ensinar as pessoas o que você sabe fazer tão bem, é algo bom para os demais chefs ou em geral é mais para que as pessoas ganhem aquele conhecimento,apreciem a boa comida e tentem fazer seus próprios pratos?

Segredo de receita guardado a sete chaves só o da Coca Cola e mesmo assim já existem outras colas no mercado. O surgimento da internet permite que se busque receitas de todos os lugares do mundo. Transmitir conhecimento em proveito de outros, principalmente iniciantes da gastronomia é de uma grandeza sem limites. Sinto muito orgulho em poder transmitir o que gentilmente me foi ensinado por outros profissionais e melhor ainda sou um eterno aprendiz.

Belo Horizonte é tida por muitos como a capital dos bares e botecos tendo em média um exemplar a cada esquina, talvez por isso seja berço de não só um,mas dois eventos gastronômicos de grande porte alem de diversas feiras onde os botecos são referenciados como devem ser. Qual a importância desses eventos para os bares da cidade e o que muda para aqueles que participam de eventos como esses?

É de grande importância. Principalmente para o novato na arte do restauramento. A mídia oferecida, normalmente não tem dim dim que pague. Está ficando já um pouco repetitivo tais eventos (nada contra os mesmos), mas poderia aparecer outros com outros enfoques criativos.


Falando de Minas Gerais é impossível não falar da vasta gastronomia que temos aqui tendo diversos pratos famosos e reconhecidos em todo o mundo. Você que conheceu inloco tantos meios gastronômicos acredita que Minas faz jus a fama de uma das melhores culinárias do mundo ? E para você quais seriam outras a entrar nesse rol de melhores  gastronomias mundiais?

Sim, temos uma bela e deliciosa cozinha mineira. Com estilos próprios de cada região do estado e que já andam um tanto deturpadas pelos modismos. Somente vejo como comida de raiz brasileira a da região norte do país. Pará,Manaus tem uma cozinha que qualifico de brasileira de raiz. Existe uma grande necessidade de se dar maior reconhecimento pelo Governo de Minas acerca da nossa culinária. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Quero a felicidade nas pequenas coisas



Você verá muita gente dizer que a vida passa diante dos seus olhos. Assim como verá muita gente dizer que a felicidade está nas pequenas coisas,pequenos fragmentos que nos cabe apreciar enquanto se tornam verdadeiramente mágicos quando devidamente aproveitados. Contudo,como dizem, basta um piscar de olhos e esses momentos passam.

Olhe a sua volta. Vai dizer que o mundo não é predisposto pra te mostrar tanta coisa bonita que não dá tempo nem de catalogar o quanto de beleza natural existe por aí.

O critério de se observar o que há de belo cabe a nós. Não dá pra ficar ignorando toda beleza proveniente. Há momentos em que precisamos enxergar tudo isso, mesmo que mudemos o ângulo, o ponto de vista, é preciso parar e ver.

É quando tudo se torna natural as nossas vistas que passamos a entender, a essência de tudo está ali, basta apreciar, basta querer ver.

Direto e reto somos alvejados por um turbilhão de informações que vem de todos os lados e de todos os cantos. Para nós, cabe a ideia de analisar como lidaremos com essa infinidade de informações, até por que, nem sempre são boas informações, pelo contrário, muitas vezes temos informações ruins.

O tempo todo recebemos propostas para nos focar em pontos específicos, em pontos distintos ou até mesmo idênticos aos que já tínhamos. Problemas vão surgir,claro, eles sempre surgem, mas e se resolvêssemos aceitar a presença do problema para que ele tenha uma solução mais fácil, mais rápida.

Analisar com calma, respirar fundo e não perder a energia com tudo o que pode acontecer caso o problema não seja resolvido de imediato ou com facilidade. Tenha paciência, nem tudo se resolve num estalar de dedos, melhor então voltar a atenção para o presente e para aquilo que possa ser resolvido.

Assim como o sol vai esquentar suas manhãs todos os dias, a noite virá para lhe refrescar e trazer a luz das estrelas. Já reparou que a natureza sempre vistosa estará sempre lá pronta para nos encher de ar puro. Por que não agradecer por tudo isso, viver mais o agora e agradecer por abrir os olhos todos os dias, por termos ao nosso lado boas pessoas.

Por termos essas coisas todos os dias, isso acaba por cair no comum. Achamos que é simples estar ali, que sempre estará ali daquela forma. E olha que incrível, estará mesmo.

Muitas vezes nos sentiremos perdidos,sem rumo certo e no aguardo despretensioso de que surgirá algum estímulo para nos fazer voltar a ver a vida da forma preciosa que realmente ela é.

Guardar sentimentos negativos e ressentimentos passados faz com que apenas nos mantenhamos no passado e sem valorizar o novo dia que se inicia pronto para agir sobre nossas vidas.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

O destino nos deu a amizade



Muita gente não vai saber o valor de uma amizade,mas aos poucos vamos exemplificando e buscando aquelas amizades de longa data, onde as memórias são impressas junto ao carinho,ao respeito e toda a saudade de um amigo que logo poderá se tornar presença.

Amizades assim não são encontradas em qualquer lugar, muitas vezes vamos passar a vida inteira conhecendo pessoas,criando laços com muita gente e trocando experiências e sentimentos com corações de todos os tipos,isso é muito recomendável que se faça isso,contudo, infelizmente a reciprocidade não está entre as maiores qualidades humanas,logo serão poucos aqueles que tentarão cultivar uma velha e boa amizade.

Ter bons amigos é meio como ganhar na loteria,afinal não serão todos aqueles que emprestaram parcelas do seu tempo para saber com sinceridade de seus problemas lhe dando um ombro amigo e lhe aproximando de seus entes queridos,de seus outros amigos e enfim, da sua vida como se vocês fossem parte de apenas uma só vida.

Vida essa onde vocês caminham juntos, conectados mesmo sem estar na mesma direção,mas se guiando por aquilo que vem do interno para o externo.

Amizades feitas e construídas dessa forma não tem preço,não tem tempo que ponha fim e dá significado as somatórias que pessoas como nosso intimo amigo soube cultivar. Para pessoas assim o abraço torna-se um alento,um confortável lugar onde almas amigas se encontram e onde tudo vale a pena.

São nos conselhos madrugada a dentro,pela preocupação contínua daqueles que você quer ver bem e pela divisão de tristezas e felicidades que vemos toda a gratidão que uma amizade dessas representa,mesmo que para muitos essa tal "gratidão" tenha se tornado uma modinha.

Não é apenas modismo atual, mas sim um sentimento que preenche e transforma nos levando em frente entrelaçados a um grande amigo, onde não sobrará espaços para que se criem o desapego e o esquecimento .

A amizade é um presente que nos é dado pelo destino, pelo acaso mesmo, talvez ainda não seja percebido,mas o quanto antes e mais ela for valorizada melhor para você,para mim e para nós.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

PV Pergunta.doc (Lívia Teodoro)



















(Dizem por aí que não existem perguntas totalmente certas ou tampouco respostas totalmente erradas,pensando nisso decidi sair perguntando por aí para conhecer boas histórias através de boas e más respostas.O Pv Pergunta vai buscar diferentes pessoas que se dispuseram a falar com o blog e contar as suas histórias sem qualquer custo. A todos o meu MUITO OBRIGADO)

Quem é : Lívia Teodoro

Blogueira desde 2015, Lívia encontrou na internet uma forma de unir empoderamento feminino,estética, história e ativismo digital.


Criadora de conteúdo próprio Lívia tem nas redes sociais diversos seguidores que a acompanham pelo Na veia da Nega



Você tem hoje um conteúdo bastante diversificado em seu canal falando desde temas mais simples até os temas mais sensíveis. Existe algo que você vete totalmente e não fale ou todo conteúdo é válido?

O blog é um reflexo direto da minha vida, do meu dia a dia e, bom, a minha vida é "ilimitada", tudo que passa pelo meu dia a dia acaba indo pro blog. Não existe nenhum assunto proibido dentro do que escrevo, mas, não vão parar lá por exemplo assuntos que eu não tenho lugar de fala. A branquitude, por exemplo, é uma pauta que não entra, afinal, não é meu lugar de fala.

O "Na veia da nega" surge inicialmente para empoderar principalmente as mulheres negras e estabelecer ali um conjunto de fatores sobre esse recorte de raça dando dicas e as ajudando de uma forma geral a encarar a vida e a conhecer sobre a cultura negra. Contudo hoje em seu canal no Youtube o blog apresenta uma série de dicas que auxiliam todos os tipos de mulheres. Esse crescimento do blog e também do conteúdo apresentado nele fez com que o conteúdo hoje fosse seguido por mulheres de todas as raças e não somente a mulher negra?

A intenção do blog nunca foi de produzir conteúdo pra ser lido/acompanhado somente por mulheres negras. Mas sim, de que mulheres negras também se vissem representadas nos mais diversos assuntos. Assim como todas nós lemos vários artigos - independente de raça - quando achamos interessantes, por ser um conteúdo criativo e bem feito acredito que o Na Veia da Nêga acaba atingindo vários públicos. Inclusive quando a pauta envolve raça o Na Veia da Nêga tem se tornado referência para pessoas não negras, uma vez que procuro sempre produzir um conteúdo simples e didático. Considero isto positivo e fortalecedor para meu trabalho, é gratificante ser referência para várias pessoas.

Em seu canal do Youtube, você passeia com responsabilidade por diversos assuntos que vão desde temas pessoais como a sua relação com a maternidade e com o seu filho,o fato de ser bissexual e a transição capilar até chegar no papel da mulher negra na sociedade. Há algum segredo para transitar e falar diretamente de assuntos por muitas vezes tidos como delicados com tamanha facilidade?

A escrita é um processo complexo e delicado, Para nós, população negra, que tivemos - e ainda temos - o local de fala dentro da sociedade tão silenciado é ainda mais complicado, mas, se tem algo que a mulher negra pode é poder! É com este pensamento que escrevo e gravo vídeos. A responsabilidade com o meu conteúdo é linha central na minha produção, acredito que isso facilite e deixa essa sensação de que escrevo e gravo com facilidade. Mas, como diria Djamila Ribeiro "Aqui a gente não acha nada, aqui a gente estuda!" e a aparência de facilidade vem daí, todo o conteúdo é pensado e estudado com muita dedicação antes de ir ao ar, afinal, é preciso ter responsabilidade com quem lê o que escrevo ou assiste o que gravo. Não é nenhum segredo, é apenas exercer o jornalismo com responsabilidade e o compromisso de um discurso sadio, pensando assim fica bem fácil desenvolver temas considerados sensíveis ou delicados.

A rede de conteúdo que compõe o Na veia da Nega tem quase 100% de conteúdo autoral seu e mesmo aqueles textos que não são diretamente feitos por você, passam pelo seu crivo para que cheguem até o blog ou o canal. Por ter um discurso forte e necessário voltado para o empoderamento feminino e da mulher negra há um cuidado da sua parte para que possíveis haters e até mesmo gente que acompanha o seu trabalho com bons olhos não desvirtuem aquilo que você diz e transformem suas falas, por exemplo em racismo reverso?

O conteúdo do blog é 100% autoral, as citações de outros autores acontecem sem alteração, quando são necessárias e, mais uma vez, volto na questão da responsabilidade com o que produzo. A partir do momento que o conteúdo "cai na internet" temos menos controle sobre como e quando aquilo será replicado ou comentado. Porém isto não me isenta da obrigação de ser o mais clara possível na minha comunicação. Uma das máximas do meu trabalho como jornalista é: "Eu sou sim responsável pelo que você entende quando eu escrevo". As pessoas hoje encarnaram o discurso de estarem isentas daquilo que os outros entendem, mas, nós que produzimos conteúdos e conhecemos nosso público - embora não consigamos nos proteger 100% - conhecemos técnicas o suficiente para sermos claras na nossa escrita, evitando - ou tentando evitar - as más interpretações. Sobre o "racismo reverso", um mal do Facebook, este é impossível prever ou prevenir. A branquitude e sua desonestidade intelectual vão sempre tentar ser - novamente - o centro do discurso, mesmo quando não se está falando sobre eles.

Você através do seu canal passa hoje a consciência de estar bem resolvida com relação a sua sexualidade,a sua raça,cabelo enfim, bem resolvida com você mesma. Houve algum momento em que você precisou virar o jogo pra não perder esse processo de se resolver consigo mesma?

Fico feliz de passar essa imagem, de verdade, mas, todas nós em alguma medida vamos ter algumas inseguranças. Eu sou uma mulher comum, com medos e ansiedades. A diferença é que encontrei algumas maneiras de repensar estas inseguranças que acho que valem a pena dividir. Fico feliz quando as minhas reflexões são capazes de ajudar a outras mulheres e este retorno é essencial para que este trabalho continue. Eu as fortaleço e elas me fortalecem, é um ciclo importante e só funciona porque todas nós acreditamos nesse compromisso.

Você é também CEO e criadora do Clube das blogueiras negras que reúne até então blogueiras negras de Belo Horizonte e Minas Gerais. Como surgiu essa ideia e que tipo de incentivos a mais o clube apresenta para essas blogueiras e influenciadoras digitais negras?

O Clube de Blogueiras Negras nasceu em 2016 e todos podem saber mais sobre o projeto neste link. Além de tudo isto, o Clube  serve para fortalecer a ideia de que "uma sobe e puxa a outra", assim a gente faz circular entre nós e nosso público vários trabalhos representativos e de qualidade. Nos últimos meses o Clube de Blogueiras Negras, sob a produção executiva da Zaíra Magalhães (Divindade Cultural) vem desenvolvendo formações específicas para youtubers com parceiros importantes, como o Fundo Baobá, a Artigo 19, a Embaixada Canadense e o fundo internacional feminista Frida. 

Sabemos que historicamente os negros sofreram e ainda sofrem com o racismo velado e o racismo explícito de boa parte da sociedade. Você que hoje participa ativamente desse processo de empoderamento da cultura negra, principalmente das mulheres negras vê que a sociedade está evoluindo com relação a igualidade das raças ou ainda temos um constante regresso? E você sofreu esse preconceito diretamente na pele e como reagiu a esse preconceito ocorrido com você,caso ele tenha existido?

O racismo nosso de cada dia está em todos os lugares e conforme você circula em várias áreas da sociedade. Estar em vários espaços me faz experimentar várias formas diferentes de racismo, igualmente agressivas e perturbadoras. São tantos casos diariamente que acabamos não reclamando de tudo, mas, tomando atitudes concretas de transformação, que acredito serem mais efetivas, como acionar a justiça e incentivar que as outras pessoas façam o mesmo. Racismo é um crime, assim como a injuria racial e precisamos passar a tratar como tais para que a sociedade crie uma cultura nova e firme diante dos casos de racismo.

Há um consenso de que os modelos familiares estão em constante mudança e que hoje há diversos formatos de famílias.Entre os formatos familiares está o da mãe solo que assume essa dupla jornada por quê o pai da criança saí de cena e deixa de cumprir as responsabilidades dele como pai perante a mulher que gerou um filho dele e também perante ao próprio filho que passa a não ter a presença do pai como é o caso de milhares de crianças no país que não tem o nome do pai na certidão. Há uma conscientização hoje das mães solos de que elas podem ter uma vida após o nascimento dos filhos ou a maioria ainda rotula apenas a mãe solo com a romântica tese de que ela é uma guerreira por criar o filho sozinha e que a partir daí teria de viver pro filho?

O problema é ainda maior que imaginamos. A maternidade solo - que infelizmente não é exclusividade de mulheres solteiras - traz consigo uma culpa eterna. Essa missão social de santificar as mães e fazê-las entender de que "nasce a mãe e nasce a culpa" é ainda mais cruel quando a mulher exerce sozinha essa função. A maternidade solo se torna mais difícil por conta dos palpites e pitacos e acredito que ainda leva tempo para a sociedade deixar de associar a obrigatoriedade de anulação da mulher para que ela exerça a maternidade

Em um dos seus vídeos você conta que tenta criar o seu filho dentro de um ideal feminista tendo em vista que ele é filho de uma mãe solo,negra,feminista e bissexual e também por que ele é um garoto negro e que de certa forma vai precisar aprender os dois lados da moeda diferente do que ele está adaptado a ver na escola onde em geral ele é apresentado somente ao formato familiar tradicional onde se tem mãe,pai e o filho. Como fazer com que aos poucos as crianças de um modo geral possam entender que não existe apenas esse formato de família e que existem diversos meios de relacionamento entre meninos e meninas sem ser somente o modelo heteronormativo?

Esta é uma pergunta complexa, não é mesmo? Não há uma receita pronta e fácil, se houvesse a gente já teria consertado esse mundo! Mas, acredito de verdade que a convivência com a diversidade vai fazer com que as próximas gerações sejam mais inteligentes em lidar com relacionamentos e modelos familiares que fogem da heteronormatividade. Eu sou uma mulher bissexual, mãe e noiva de uma mulher lésbica, só isso já é o suficiente para que meu filho e nosso círculo já vejam várias quebras de paradigmas em uma única relação, conviver com esta diversidade faz do meu filho um ser humano melhor, mais tolerante e, com um pouco de esperança eu acredito que transforme também as pessoas do nosso círculo, como os amiguinhos do meu filho, por exemplo.

É notório que as pessoas por si temem aqueles que são poderosos, pelo simples fato de que eles detém o poder. Há também o consenso feminista de que os homens por si temem ainda mais as mulheres poderosas ou que tem opinião própria formada. Você ao dialogar com as mulheres através do seu canal e do blog acaba por muitas vezes por obter esse poder em mãos. A abordagem masculina para com você mudou a partir do momento em que passaram a te reconhecer pelo canal ou isso já ocorre diretamente a partir do momento em que você mostra para o homem que também é uma mulher inteligente e que sabe o que quer?

Olha, é sempre uma surpresa ler isto,(risos) porque eu continuo sendo a mesma menina/mulher de sempre! Mas, sim, isso já aconteceu algumas vezes e sempre com homens, eles procuram a Lívia Teodoro, a que fala isso e aquilo, a "menina da capa do jornal" e bom, eu sou muito além do que está na internet e pessoalmente eu sou uma mulher comum, que não deveria inspirar medo. Hoje eu estou num relacionamento depois de muito tempo e uma das coisas que me faz amar a minha noiva é exatamente o fato dela amar a pessoa física, não a pessoa jurídica e deixar isto claro todos os dias. Ana Roberto, que também é uma pessoa pública, entende que para mim é impossível me relacionar com alguém que enxerga somente o meu trabalho, afinal, eu sou bem mais que isto. Homens tendem a temer mulheres independentes e não dá para se relacionar com quem nos teme. Homens, admirem as mulheres poderosas!  



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O ano das tragédias


Não sei se seria o destino.
Talvez há quem acredite nele mais do que nos outros e por isso creia tão fortemente que tudo isso estava escrito, que tudo isso é apenas um prenúncio do apocalipse ou de que dias piores realmente virão.

Há uma crença brasileira de que o ano realmente só começa após o carnaval. Não há comprovação em estudos é claro,mas tendo em vista o nosso atual ano de 2019 penso que de fato talvez o ano só comece após ele.

São muitas tragédias. Uma sucessão delas que vão atingindo e derrubando desde pessoas relevantes até tragédias teoricamente naturais que acabam por fazer de pessoas comuns vítimas de uma semi quarentena pesada de um ano que mal começou.

Pela lama de Brumadinho foram centenas de vidas perdidas em meio a negligência gananciosa de empresas que visam o lucro e se esquecem da vida. Da tragédia que se repetia da também mineira Mariana, temos famílias desoladas,arrasadas e destruídas por um tsunami de rejeitos que ainda não foi e não será esquecido.

Assim como não serão esquecidos os meninos do Flamengo, os meninos do Brasil, muitos com o sonho de mudar de vida,virar a solução dos problemas das famílias e que através do fogo foram se perdendo. 

Emiliano Sala também sonhava ser a solução para a família, o argentino era a maior contratação do Cardiff, clube da Premier League, talvez a liga mais disputada do mundo atualmente e que viu seus dias de glória no campo se encerrarem no fundo do canal da mancha.

Das chuvas devastadoras vidas se perderam no Rio de Janeiro, assim como as vítimas de feminicidio, homicídio e tantas outras mortes que vão se sucedendo pelo nosso país e pelo mundo. 

Em um breve espaço de tempo perdemos seres como o Padre Quevedo,a frenética Edyr de Castro, o cantor Marciano e o compositor Marcelo Yuka,além deles ainda houve as baixas de Wagner Montes e o ator Caio Junqueira e ainda sem massagear,sem poupar ninguém vão Ricardo Boechat e Deise Cipriano Pouco tempo, muita gente

Difícil pensar que o ano está apenas em seus passos inicias.

Difícil pensar que tanta gente foi deixando para trás a saudade e os legados de trágicas mortes e de toda uma vida de trabalho duro buscando algo de melhor que estava por vir.

A vida é um sopro e infelizmente estas tragédias vem para se somar e informar a todos que a vida é o agora e que em segundos tudo pode mudar.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Os meus motivos



Eu poderia aqui enumerar motivos
Eu poderia deixar aqui milhares deles enfileirados, prontos para uso, feitos sob medida para serem adaptados aos diversos cenários que criei e a todos aqueles cenários que eu poderia criar.

São muitos motivos para se apaixonar,amar,viver,se descobrir apaixonado,não apaixonado,raivoso,surpreso, diversos pontos de vista e angulações que podem se encaixar em mim e muitas vezes não se adequar a você.

A mesma medida pode te dar duas visões, tal qual a lógica de um copo meio cheio,mas que também pode estar meio vazio.

É estando do outro lado que aprendemos, aquele lado não tão comum ao nosso, que acabamos percebendo que muitas vezes,realmente não vai acontecer.

Logo perceberemos que muitas vezes podemos ir para lugares onde não gostaríamos de estar, fazendo coisas que provavelmente não nos encanta,mas que acabamos por fazer.

O pior é que sempre teremos motivos próprios para teorizar o por que de irmos onde não queremos, de fazer coisas que não gostaríamos de fazer e acredite, nenhum desses motivos vai estar completamente certo ou completamente errado.

Há claro o infortúnio de pessoas que desacreditam dos motivos a não se fazer,a não se realizar.
Aquela velha máxima de que sempre haverá um jeito,uma forma de ir,de se fazer,de ser e acontecer. 
E realmente até tem,mas é mais desgastante, massante a falta de justificativas para se fazer algo que bem lá no fundo, naquele vazio incompreendido notaremos que não era pra ser.

Se a mente trabalha logo virão motivos para se orgulhar,assim como virão motivos para se frustrar bruscamente. É como se tivéssemos dois caminhos,mas invariavelmente teremos de escolher um para seguir.

Talvez assim tenhamos descoberto o motivo de tantos corações partidos por aí. Muitas vezes a corda funciona apenas para um lado, muitas vezes outras coisas se faziam necessárias naquele momento de modo que não era tão importante assim mais.

Uma vez quebrado fica difícil juntar de novo, criar a mesma conexão, o mesmo elo anterior.

A gente deve aprender assim. O fardo começa pesado, dolorido, mas aos poucos vai perdendo robustez,perdendo peso, força e se torna algo leve e didático para o nosso futuro.

Amadurecemos com isso, aprendemos cada vez mais com aquilo que nos combate e passamos a dar ainda mais motivos para sim ou para não.

Para o futuro ganhamos mais motivos,mas dessa vez não é para escolher é apenas para mais uma vez, recomeçar.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Certas páginas não se arrancam,apenas se queimam



O passado mal resolvido pesa sobre muitas pessoas ,apressar os passos rumo ao futuro acaba por si travar aonde se quer ir. Ou se finaliza tudo,ou se abrevia os momentos, se necessário é preciso não deixar nada para trás, apagar o passado,queimar.

Durante a vida faremos escolhas erradas isso é certo, amaremos quem não devia ser amado,confiaremos em que não se devia confiar,falaremos a mais do que devíamos falar,mas é assim que crescemos,assim que evoluímos.

Há quem se veja como dono da verdade, como tutor de tudo aquilo que pode e deve ser. Sabemos que não se forma assim,sabemos que os erros ensinam,moldam,capricham naquilo que pode se formar por si.

As marcas do passado maculam o presente, impedem a caminhada de seguir. Enquanto o coração for preenchido por cicatrizes teremos um peso as pernas, nos atrelando aquilo que nos faz mal, nos prendendo a tudo que for de ruim.

Ao recomeçar nos livramos dos pesos antigos,das amarras que nos seguravam a todo custo de olhar para frente,para onde queríamos ir.

Alguns erros é bom de se lembrar,até mesmo para saber o que não fazer,como não agir,outros a gente não só vira a página como as queima,as joga fora de toda e qualquer presença.

O passado muito nos serve de lição,isso é claro, parâmetro perfeito para aquilo que não queremos mais que seja feito. Pensar no passado,refletir sobre o que fizemos muito nos ajuda,mas é importante também que possamos nos libertar disso,deixar para trás e evitar lembrar.

A dor passa somente quando nos permitimos cicatrizar todo o mal.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Pv.Pergunta (Aline Caetano)


















(Dizem por aí que não existem perguntas totalmente certas ou tampouco respostas totalmente erradas,pensando nisso decidi sair perguntando por aí para conhecer boas histórias através de boas e más respostas.O Pv Pergunta vai buscar diferentes pessoas que se dispuseram a falar com o blog e contar as suas histórias sem qualquer custo. A todos o meu MUITO OBRIGADO)


Quem é : Aline Caetano Rocha


Psicologa formada pela Puc Minas,Aline tem passagens por projetos como o espaço Criança Esperança e atualmente está engajada tanto no hospital João XVII quanto em projetos sociais que auxiliam as vítimas da tragédia de Brumadinho e o Gentileza em Folhas que incentiva a leitura de pessoas de todas as idades através de livros doados.






Você trabalhou no espaço Criança Esperança que por ser muito vinculado a Rede Globo de televisão tem lá uma relação de amor e ódio com quem acompanha. Como um projeto que ajuda tanta gente pode ter essa imagem arranhada dessa forma? E o quanto dessas críticas ao projeto interfere no andamento do mesmo?

A imagem talvez questionável referente a proposta do Criança Esperança, é o fato do público limitadamente conhecer a organização do Espaço, eu mesma, antes de conhecer tinha esta impressão, tanto que fui conhecer a proposta e a organização institucional da mesma, através de uma disciplina de seminário na minha graduação, e através desta descobri que a Rede Globo de Televisão é apenas uma empresa que ao buscar obrigatoriamente se vincular a execução de atividades de responsabilidade social (devido ao porte da empresa), ela busca promover o evento da campanha de arrecadação no "Dia da Esperança", e as doações são diretamente repassadas para a conta e Gerenciamento da Unesco.  Inclusive são muitas empresas grandes que apoiam o projeto, aqui em Belo Horizonte mesmo, no Aglomerado da Serra, na época em que atuei lá, contávamos com o apoio da PUC Minas (Secretaria Mineira de Cultura) e Prefeitura de Belo Horizonte. As criticas diretamente interferem na arrecadação de doações, que poderiam contribuir ainda mais para o sucesso do Espaço.

Quando se fala de psicologia muito se vincula a imagem de Freud,Nietzsche,Carl Jung e tantos outros filósofos, pensadores e psicólogos que inseriram teorias naqueles tempos e que muitas vezes chegam ao dia de hoje com uma mudança aqui ou outra ali,mas vinculada à uma imagem forte de quem a iniciou. Há hoje um espaço na psicologia pra que essa nova geração insira métodos novos para os pacientes?

Certamente observamos que foram ampliadas ainda maiores fronteiras, no que tange aos saberes da Psicologia, os teóricos que você manifestou , acredito que são e serão sempre "bases eternas" acadêmicas, pois passaram gerações e por mais que existam mudanças de contextos biopsicossociais, sempre iremos poder alinhar as abordagens destes teóricos com a construção e o desenvolvimento comportamental do ser.  Já no que se refere a "métodos novos", vejo que a nova geração, não somente por causa da tecnologia, mas pensando nas diretrizes da busca contínua de qualificação e rompimento de muros profissionais, consolidando cada vez mais um trabalho multidisciplinar, penso que podemos sim ver inovações no que se refere a estudos voltados a Neuropsicologia, Psicopatologia e métodos de Avaliação Psicológica.

Muito do trabalho do psicólogo  vem de escutar aquele que fala sobre os seus problemas e sobre as situações que ele convive e tentar ajudar a encontrar um meio onde a pessoa possa se ajudar a resolver aquele problema. O envolvimento entre paciente e psicologo é algo que vem sendo muito debatido por se pensar que o profissional deve apenas ajudar o paciente,mas não se envolver diretamente. Você como uma pessoa mais extrovertido acha que o contato maior entre o paciente entre o profissional beneficia ou prejudica?

Pois bem, é muito importante, inclusive recomendável que o Psicólogo conheça bem seu personagem profissional para atuar no cenário de rotina, a criação de vinculo que nós psicólogos achamos importante é quando se refere a uma relação de confiança  e entrega do paciente ao nosso trabalho, por isso é importante tanto ao paciente como ao psicólogo, esclarecer o por quê estão naquele processo, portanto não é recomendável, um psicólogo atender alguém que tenha um vínculo mais pessoal, pois as chances de sermos minados com "pre-conceitos" serão maiores, já que provavelmente já conhecemos o individuo através de outros cenários e de outras óticas, sendo talvez desafiador apegar-se a neutralidade profissional.

Em suas redes sociais você tem uma coleção de belas imagens de Belo Horizonte,Ravena e até mesmo de cidades para onde você viajou e mostra ali o algo singelo e que te agrada. Como psicóloga o quanto você vê de importante em parar essa nossa correria do dia a dia pra apreciar o belo e simples que está a nosso alcance?

Não sei se consigo associar a apreciação do belo e simples na perspectiva da psicologia para associarmos aos benefícios de uma boa saúde mental.  Só digo como psicóloga, que devemos buscar hábitos que nos fazem aproximar de algo que nos dá conforto emocional, principalmente diante de rotinas tão intensas e muitas vezes estressantes. Os registros meus são ações que busco alimentar para simbolizar gratidão às vivências. E diante a um circulo tão intenso em que vivo profissionalmente, o cenário da calmaria preenche de benefícios a minha saúde mental.

Boa parte do trabalho dos psicólogos assim como você vem de escutar ao próximo e trabalhar a mente daquele que divaga sobre a sua vida e sobre os seus problemas para encontrar ali uma solução ou meios de solucionar suas aflições. Ouvindo tanta coisa dá pra sair de uma consulta ou de uma conversa como essa de forma "ilesa" ou seja sem influências diretas dos pacientes ou conversa de consultório é conversa de consultório e nada muda?

O psicólogo pode se identificar com as vivências, sim e inclusive aprender com elas, o que devemos ter cuidado é não se deixar ser influenciado durante a consulta a ponto de não ter a neutralidade de lidar com o que está sendo manifestado pelo conceito e se contaminar de ações abastecidas de "pré-conceitos", pois tais ações podem criar muros ao invés de derrubá-los na relação psicólogo-paciente.

A figura do psicólogo é muitas vezes retratada de uma forma fria e sintomática por ter mais de ouvir o paciente falar de si do que propriamente falar de si para alguém. Dá pra separar a pessoa que está ali ouvindo alguém de uma pessoa que como qualquer outra pode ter um dia ruim,ter um problema pra chamar de seu e até o caso do próprio profissional precisar também de auxílio ou há um aprendizado maior pra que esse profissional gerencie melhor a própria vida?

Sim, sim! É importante, até mesmo para filtrarmos melhor sobre o que é partilhado na psicoterapia, termos acompanhamento psicológico, até mesmo para gerenciarmos melhor a própria vida,  até mesmo impactando diretamente na nossa atuação profissional, pois trabalhamos muito com interpretação mental e comportamental e se não alinharmos nossa saúde mental de forma a perceber que somos indivíduos em contante desenvolvimento, nos desequilibramos na vida profissional e nos aspectos pessoais.

Falando sobre o projeto social Gentileza em folhas como surgiu a ideia e quais os idéias de alcance desse projeto?

O Gentileza em Folhas é um projeto em que foi baseado em uma experiência que vivenciei na minha graduação. Na época em que eu atuei como pesquisadora no Criança Esperança, fui convidada a participar de um evento em uma das escolas mais tradicionais e bem conceituadas de Belo Horizonte, onde minha professora era coordenadora pedagógica da escola. O evento era sobre literatura, e ao ir no mesmo, fiquei surpresa de ver como as crianças tinham um contato tão próximo com a leitura, a ponto de conhecer detalhadamente sobre os autores e as obras, nisso fiquei um pouco incomodada porque meus educandos da mesma faixa etária, mal mal, sabiam juntar as silabas e assim, pensei no projeto, como forma de atingir a leitura para todos, e como existem coisas na vida que não são compradas, busquei tentar promover como gesto de gratidão, ações de incentivos a gentileza. O Gentileza em Folhas irá ser alinhado mais institucionalmente, aproximando inicialmente uma forma de promover o desenvolvimento da humanização em organizações de saúde pública.

Recentemente você se candidatou a uma vaga voluntária para auxílio à vítimas da tragédia ocorrida na barragem de rejeitos  em Brumadinho. Mesmo não conseguindo estar lá diretamente você está hoje num projeto da UFMG que auxilia através de profissionais de diversas áreas vítimas dessa tragédia. Como funciona esse projeto e você acha que é possível minimizar ou recuperar o aspecto psicológico não só das vítimas,mas de toda uma cidade assolada pela tragédia?

"Participa UFMG" é um projeto mega interessante, pois reúne servidores, alunos e ex alunos para participarem ativamente de ações em que possam acompanhar ações de curto, médio e longo prazo, acolhendo todas as formações e promovendo ações contínuas e eficazes no local da tragédia, através de parcerias institucionais. Estamos em fase de inscrição ainda, pois a partir dela, iremos filtrar para poder construir ações estratégicas para acompanhar a comunidade.  É possível sim minimizar a partir do cuidado de planejar e estabilizar a execuções de atividades e monitoramento das mesmas.  Não posso dizer recuperar o aspecto psicológico, pois isso dependeria do acompanhamento contínuo com a população e das ações de prevenção de outras instituições. Mas o objetivo inicialmente é não perder a força da mobilização e promover projetos eficazes que condizem com a realidade da comunidade.

Você teve um trabalho direto com crianças dentro do espaço Criança Esperança da mesma forma que trabalha com adultos pro João XVII e também em outros projetos sociais. O trabalho com as crianças teve um aspecto diferente pra você por elas te verem  ali como não só uma futura psicóloga na época, mas também como alguém que elas podiam contar e aprender?

Sim, o Criança Esperança, me abriu uma grande porta como profissional, pois foi nele que eu criei um perfil profissional que direciona a eu ser responsável ou referência de algo,  com as crianças, foi um trabalho que teve um fruto de humanização incrível no que refere a relacionamento interpessoal,  o vinculo que criei com elas, fez com que as mesmas despertassem um senso incrível de criatividade e racionalidade. Isso é sensacional, mas a melhor experiência que tive, foi ser madrinha de um grupo de adolescentes no projeto e participar de uma gincana, porque foi muito difícil criar vinculo com eles, devido a uma certa resistência dos mesmos, por me conhecer a tão pouco tempo, mas no dia mesmo da gincana, ficamos em segundo lugar e vibramos mais que o primeiro lugar, e eles começaram  a cantar um trecho de Pescador de Ilusões do Marcelo Falcão a qual dizia "Valeu a pena", e estavam felizes e me abraçaram felizes. E neste "pequeno grande" gesto, vi que realmente valeu a pena, já que realmente houve em mão dupla, um trabalho de confiança e aprendizagem.

Muito se fala hoje do Bullying nas escolas algo que antes não era debatida e por muitas vezes ignorado nas conversas dentro ou fora de sala de aula. Você sofreu isso na pele e acabou saindo de um colégio devido ao Bullying. Hoje você vendo uma aluna na situação que você viveu naquela época recomendaria o afastamento dela da escola ou procuraria o auxílio da escola pra tentar resolver de uma maneira diferente?

Não recomendaria a mesma a sair de um colégio, pois seria uma forma de varrer para debaixo do tapete algo que não encerraria o sofrimento no dia posterior da saída do colégio.  Buscaria acolhimento institucional, reconhecer mais as normas institucionais e saber como pode utilizar elas para aliviar a situação e buscaria recursos  além do colégio, como mobilizações na Secretaria de Educação ou até mesmo Conselho Tutelar!


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O brilhante



Acho que é meio certo que toda a família tenha lá a sua ovelha negra. Fato é que nem sempre ela é corretamente indicada e logo ostentar esse título pode trazer de certa forma algum orgulho para as pessoas a ponto de impedir que elas empurrem essa alcunha para outra pessoa.

Foi num agradável conversa de botequim no entanto que eu descobri uma outra alcunha que poucos revelam e que acaba por menos vangloriada do que ser a ovelha negra do rebanho familiar.

O brilhante, aquele que de fato orgulha a família ou que pela menos tem fama de assim fazer ou aquele que se deu bem na vida a ponto de ser apontado por todos como o exemplo a ser seguido.

Uma pena contudo que nem tudo que reluz é ouro, talvez por isso a pecha de que alguém é de fato o orgulho da família acaba por de fato orgulhar aquele que carrega essa fama.

Ser bom é de fato algo pesado,difícil de ser mantido e dá a leve impressão de que a qualquer momento caíra por terra a ideia de que você está sempre no topo.

Há no entanto aqueles que de forma arrogante assumem o posto sem de fato ser um orgulho para a família até para si mesmo. Apenas abanca sobre a face de uma vida pautada em orgulho quando na verdade tudo é apenas uma maquiagem.

São muitos os casos. Pessoas que obtiveram o sucesso na vida muitas vezes o tiveram apenas por mérito próprio e não desejam ser alvo de honrarias,mas acabam sendo condecorados como se tivessem vencido uma guerra ou feito algo de muito heroico,quando na verdade não fizeram nada mais do que viver.  

É um irmão com mais estudo e consequentemente um salário melhor. É um primo que mora no exterior. Tem aquele pai de família sempre bonzinho que na luta conseguiu criar os filhos sozinho. A mãe que mesmo não recebendo pensão do pai da criança consegue que o filho seja uma boa pessoa. Muitas histórias,muita gente para ser bem avaliada pelas consequências que a vida lhe trouxe.

O processo até o fim do caminho pouco importa,fica pelo espaço,pela criação sequente de fatos que tornem a pessoa ainda mais relevante,ainda mais reverenciada.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O mau também envelhece




Sempre me ensinaram que eu devia respeito pelas pessoas mais velhas. Nunca discordei disso inclusive acredito que o respeito é devido a toda criatura com vida,independente da idade ou qualquer outra coisa,assim como devemos respeitar possíveis limitações que as pessoas possam ter ou incapacidades devido a seja lá o que for que as impeça de fazer ou realizar algo.

Logo da mesma forma que uma criança deve ser preservada em sua pureza e inocência,devemos também preservar a fragilidade obtida por uma pessoa idosa tendo em vista que ela já passou por todo um processo de vida que lhe foi debilitando ao longo do tempo.

O que não podemos fazer no entanto é transformar as pessoas mais velhas em santas vivos a ponto de serem canonizadas apenas pelo fato de que elas se tornaram mais velhas ou viveram mais. Por óbvio que vão existir vovôs e vovós muito legais,mas nem de longe essas pessoas serão santas.

Incomoda a forma como muitas vezes os idosos são tratados e não digo isso por eles serem mau tratados,mas sim pelo exagero sobre a figura humana que ficou mais velha. Muitas vezes as tratamos como uma flor de estufa,alguém que está a parte ou é muito diferente a ponto de não poder receber uma palavra negativa que se oponha a opinião deles.

Pessoas mais velhas precisam sim de cuidados,preservar a saúde,receber carinho e amor, isso é lógico,mas isso não significa que eles não tenham vivido tudo isso que estamos vivendo hoje. Eles foram crianças,adolescentes,passaram por um lado ruim e bom da vida assim como nós passamos e passaremos até atingir uma idade mais avançada como eles.

Idosos são gente como a gente,apenas a fase da vida que é outra,mais avançada e com maior tempo no planeta do que nós,mas com sorte e se sobrevivermos chegaremos até lá assim como eles.

Assim como as pessoas envelhecem, os conceitos também serão envelhecidos, logo se uma pessoas ao longo de sua vida foi egoísta,mau caráter e durante todo o tempo tentou apenas levar vantagem sobre as outras pessoas logo podemos crer que não será a idade avançada que irá anular suas atitudes passadas.

A pessoa ruim pode amadurecer,claro que ela pode lá na frente se voltar para o seu passado e se arrepender de atitudes feitas,isso é algo provável até mesmo para o presente,afinal o tempo nos ensina muitas coisas e mesmo quem muito bateu,também pode ter apanhado o suficiente para que aprenda e mude de conceitos.

Experiência de vida suaviza as pessoas,torna alguém duro e atacado pela vida em alguém sereno que sabe que a vida passa,mas da mesma forma que a vida pode suavizar ela também pode amargurar pessoas que passaram por um pouco de tudo e que vão notar que a vida pode não ter lá tanto conserto e que não tem formula mágica ou pote de felicidade no fim do arco íris que mude isso.

A máscara de velhinhos doces e gentis que tanto vemos por aí muitas vezes é apenas arquétipo, um conceito perdido em meio a massa enquanto o adolescente ruim e e o adulto pior ainda envelheceram e envelheceram de forma ruim,sem aprender nada da vida e muitas vezes tendo atitudes piores para com as pessoas e de quebra com o alento de não ser o culpado apenas por ter mais idade.

O mau envelhece amigos, mesmo com todo o aprendizado que se pode obter muitas vezes nos esqueceremos disso e deixaremos como legado apenas coisas não tão bem vistas a nossa sociedade. Podemos sim nos tornar bons velhinhos,mas esse processo não é automático,não caí do céu,por isso temos provas cabais de muitos velhinhos por aí que deveriam estar pagando seus pecados pelas próprias atitudes.

Respeito é bom para todos, não só para os mais velhos. Logo devemos sim respeitar as mazelas que a idade possa ter trago para uma pessoa,mas jamais devemos santifica-los a ponto de isenta-los de críticas por suas posições,comportamento ou ideias,podemos claro maneirar na intensidade com a qual os criticamos devido ao respeito,mas jamais alça-los a um pedestal.

Se alguém é ruim ele não deixa de ser ruim apenas por envelhecer. Isso jamais será responsável por melhorar o caráter de ninguém. É preciso muito mais do que isso.