quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Pv.Pergunta (Aline Caetano)


















(Dizem por aí que não existem perguntas totalmente certas ou tampouco respostas totalmente erradas,pensando nisso decidi sair perguntando por aí para conhecer boas histórias através de boas e más respostas.O Pv Pergunta vai buscar diferentes pessoas que se dispuseram a falar com o blog e contar as suas histórias sem qualquer custo. A todos o meu MUITO OBRIGADO)


Quem é : Aline Caetano Rocha


Psicologa formada pela Puc Minas,Aline tem passagens por projetos como o espaço Criança Esperança e atualmente está engajada tanto no hospital João XVII quanto em projetos sociais que auxiliam as vítimas da tragédia de Brumadinho e o Gentileza em Folhas que incentiva a leitura de pessoas de todas as idades através de livros doados.






Você trabalhou no espaço Criança Esperança que por ser muito vinculado a Rede Globo de televisão tem lá uma relação de amor e ódio com quem acompanha. Como um projeto que ajuda tanta gente pode ter essa imagem arranhada dessa forma? E o quanto dessas críticas ao projeto interfere no andamento do mesmo?

A imagem talvez questionável referente a proposta do Criança Esperança, é o fato do público limitadamente conhecer a organização do Espaço, eu mesma, antes de conhecer tinha esta impressão, tanto que fui conhecer a proposta e a organização institucional da mesma, através de uma disciplina de seminário na minha graduação, e através desta descobri que a Rede Globo de Televisão é apenas uma empresa que ao buscar obrigatoriamente se vincular a execução de atividades de responsabilidade social (devido ao porte da empresa), ela busca promover o evento da campanha de arrecadação no "Dia da Esperança", e as doações são diretamente repassadas para a conta e Gerenciamento da Unesco.  Inclusive são muitas empresas grandes que apoiam o projeto, aqui em Belo Horizonte mesmo, no Aglomerado da Serra, na época em que atuei lá, contávamos com o apoio da PUC Minas (Secretaria Mineira de Cultura) e Prefeitura de Belo Horizonte. As criticas diretamente interferem na arrecadação de doações, que poderiam contribuir ainda mais para o sucesso do Espaço.

Quando se fala de psicologia muito se vincula a imagem de Freud,Nietzsche,Carl Jung e tantos outros filósofos, pensadores e psicólogos que inseriram teorias naqueles tempos e que muitas vezes chegam ao dia de hoje com uma mudança aqui ou outra ali,mas vinculada à uma imagem forte de quem a iniciou. Há hoje um espaço na psicologia pra que essa nova geração insira métodos novos para os pacientes?

Certamente observamos que foram ampliadas ainda maiores fronteiras, no que tange aos saberes da Psicologia, os teóricos que você manifestou , acredito que são e serão sempre "bases eternas" acadêmicas, pois passaram gerações e por mais que existam mudanças de contextos biopsicossociais, sempre iremos poder alinhar as abordagens destes teóricos com a construção e o desenvolvimento comportamental do ser.  Já no que se refere a "métodos novos", vejo que a nova geração, não somente por causa da tecnologia, mas pensando nas diretrizes da busca contínua de qualificação e rompimento de muros profissionais, consolidando cada vez mais um trabalho multidisciplinar, penso que podemos sim ver inovações no que se refere a estudos voltados a Neuropsicologia, Psicopatologia e métodos de Avaliação Psicológica.

Muito do trabalho do psicólogo  vem de escutar aquele que fala sobre os seus problemas e sobre as situações que ele convive e tentar ajudar a encontrar um meio onde a pessoa possa se ajudar a resolver aquele problema. O envolvimento entre paciente e psicologo é algo que vem sendo muito debatido por se pensar que o profissional deve apenas ajudar o paciente,mas não se envolver diretamente. Você como uma pessoa mais extrovertido acha que o contato maior entre o paciente entre o profissional beneficia ou prejudica?

Pois bem, é muito importante, inclusive recomendável que o Psicólogo conheça bem seu personagem profissional para atuar no cenário de rotina, a criação de vinculo que nós psicólogos achamos importante é quando se refere a uma relação de confiança  e entrega do paciente ao nosso trabalho, por isso é importante tanto ao paciente como ao psicólogo, esclarecer o por quê estão naquele processo, portanto não é recomendável, um psicólogo atender alguém que tenha um vínculo mais pessoal, pois as chances de sermos minados com "pre-conceitos" serão maiores, já que provavelmente já conhecemos o individuo através de outros cenários e de outras óticas, sendo talvez desafiador apegar-se a neutralidade profissional.

Em suas redes sociais você tem uma coleção de belas imagens de Belo Horizonte,Ravena e até mesmo de cidades para onde você viajou e mostra ali o algo singelo e que te agrada. Como psicóloga o quanto você vê de importante em parar essa nossa correria do dia a dia pra apreciar o belo e simples que está a nosso alcance?

Não sei se consigo associar a apreciação do belo e simples na perspectiva da psicologia para associarmos aos benefícios de uma boa saúde mental.  Só digo como psicóloga, que devemos buscar hábitos que nos fazem aproximar de algo que nos dá conforto emocional, principalmente diante de rotinas tão intensas e muitas vezes estressantes. Os registros meus são ações que busco alimentar para simbolizar gratidão às vivências. E diante a um circulo tão intenso em que vivo profissionalmente, o cenário da calmaria preenche de benefícios a minha saúde mental.

Boa parte do trabalho dos psicólogos assim como você vem de escutar ao próximo e trabalhar a mente daquele que divaga sobre a sua vida e sobre os seus problemas para encontrar ali uma solução ou meios de solucionar suas aflições. Ouvindo tanta coisa dá pra sair de uma consulta ou de uma conversa como essa de forma "ilesa" ou seja sem influências diretas dos pacientes ou conversa de consultório é conversa de consultório e nada muda?

O psicólogo pode se identificar com as vivências, sim e inclusive aprender com elas, o que devemos ter cuidado é não se deixar ser influenciado durante a consulta a ponto de não ter a neutralidade de lidar com o que está sendo manifestado pelo conceito e se contaminar de ações abastecidas de "pré-conceitos", pois tais ações podem criar muros ao invés de derrubá-los na relação psicólogo-paciente.

A figura do psicólogo é muitas vezes retratada de uma forma fria e sintomática por ter mais de ouvir o paciente falar de si do que propriamente falar de si para alguém. Dá pra separar a pessoa que está ali ouvindo alguém de uma pessoa que como qualquer outra pode ter um dia ruim,ter um problema pra chamar de seu e até o caso do próprio profissional precisar também de auxílio ou há um aprendizado maior pra que esse profissional gerencie melhor a própria vida?

Sim, sim! É importante, até mesmo para filtrarmos melhor sobre o que é partilhado na psicoterapia, termos acompanhamento psicológico, até mesmo para gerenciarmos melhor a própria vida,  até mesmo impactando diretamente na nossa atuação profissional, pois trabalhamos muito com interpretação mental e comportamental e se não alinharmos nossa saúde mental de forma a perceber que somos indivíduos em contante desenvolvimento, nos desequilibramos na vida profissional e nos aspectos pessoais.

Falando sobre o projeto social Gentileza em folhas como surgiu a ideia e quais os idéias de alcance desse projeto?

O Gentileza em Folhas é um projeto em que foi baseado em uma experiência que vivenciei na minha graduação. Na época em que eu atuei como pesquisadora no Criança Esperança, fui convidada a participar de um evento em uma das escolas mais tradicionais e bem conceituadas de Belo Horizonte, onde minha professora era coordenadora pedagógica da escola. O evento era sobre literatura, e ao ir no mesmo, fiquei surpresa de ver como as crianças tinham um contato tão próximo com a leitura, a ponto de conhecer detalhadamente sobre os autores e as obras, nisso fiquei um pouco incomodada porque meus educandos da mesma faixa etária, mal mal, sabiam juntar as silabas e assim, pensei no projeto, como forma de atingir a leitura para todos, e como existem coisas na vida que não são compradas, busquei tentar promover como gesto de gratidão, ações de incentivos a gentileza. O Gentileza em Folhas irá ser alinhado mais institucionalmente, aproximando inicialmente uma forma de promover o desenvolvimento da humanização em organizações de saúde pública.

Recentemente você se candidatou a uma vaga voluntária para auxílio à vítimas da tragédia ocorrida na barragem de rejeitos  em Brumadinho. Mesmo não conseguindo estar lá diretamente você está hoje num projeto da UFMG que auxilia através de profissionais de diversas áreas vítimas dessa tragédia. Como funciona esse projeto e você acha que é possível minimizar ou recuperar o aspecto psicológico não só das vítimas,mas de toda uma cidade assolada pela tragédia?

"Participa UFMG" é um projeto mega interessante, pois reúne servidores, alunos e ex alunos para participarem ativamente de ações em que possam acompanhar ações de curto, médio e longo prazo, acolhendo todas as formações e promovendo ações contínuas e eficazes no local da tragédia, através de parcerias institucionais. Estamos em fase de inscrição ainda, pois a partir dela, iremos filtrar para poder construir ações estratégicas para acompanhar a comunidade.  É possível sim minimizar a partir do cuidado de planejar e estabilizar a execuções de atividades e monitoramento das mesmas.  Não posso dizer recuperar o aspecto psicológico, pois isso dependeria do acompanhamento contínuo com a população e das ações de prevenção de outras instituições. Mas o objetivo inicialmente é não perder a força da mobilização e promover projetos eficazes que condizem com a realidade da comunidade.

Você teve um trabalho direto com crianças dentro do espaço Criança Esperança da mesma forma que trabalha com adultos pro João XVII e também em outros projetos sociais. O trabalho com as crianças teve um aspecto diferente pra você por elas te verem  ali como não só uma futura psicóloga na época, mas também como alguém que elas podiam contar e aprender?

Sim, o Criança Esperança, me abriu uma grande porta como profissional, pois foi nele que eu criei um perfil profissional que direciona a eu ser responsável ou referência de algo,  com as crianças, foi um trabalho que teve um fruto de humanização incrível no que refere a relacionamento interpessoal,  o vinculo que criei com elas, fez com que as mesmas despertassem um senso incrível de criatividade e racionalidade. Isso é sensacional, mas a melhor experiência que tive, foi ser madrinha de um grupo de adolescentes no projeto e participar de uma gincana, porque foi muito difícil criar vinculo com eles, devido a uma certa resistência dos mesmos, por me conhecer a tão pouco tempo, mas no dia mesmo da gincana, ficamos em segundo lugar e vibramos mais que o primeiro lugar, e eles começaram  a cantar um trecho de Pescador de Ilusões do Marcelo Falcão a qual dizia "Valeu a pena", e estavam felizes e me abraçaram felizes. E neste "pequeno grande" gesto, vi que realmente valeu a pena, já que realmente houve em mão dupla, um trabalho de confiança e aprendizagem.

Muito se fala hoje do Bullying nas escolas algo que antes não era debatida e por muitas vezes ignorado nas conversas dentro ou fora de sala de aula. Você sofreu isso na pele e acabou saindo de um colégio devido ao Bullying. Hoje você vendo uma aluna na situação que você viveu naquela época recomendaria o afastamento dela da escola ou procuraria o auxílio da escola pra tentar resolver de uma maneira diferente?

Não recomendaria a mesma a sair de um colégio, pois seria uma forma de varrer para debaixo do tapete algo que não encerraria o sofrimento no dia posterior da saída do colégio.  Buscaria acolhimento institucional, reconhecer mais as normas institucionais e saber como pode utilizar elas para aliviar a situação e buscaria recursos  além do colégio, como mobilizações na Secretaria de Educação ou até mesmo Conselho Tutelar!


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