quinta-feira, 22 de junho de 2017

Meu Primeiro Bebê.Doc (24)


(Pais de primeira viagem relatam as delicias e as amarguras da presença do primeiro bebê de suas vidas. Na série Meu Primeiro Bebê.Doc veremos relatos feito por pessoas que se despuseram a contar esse marco de suas vidas sem qualquer custo ou a precisão de revelar a identidade. A todos que aqui deram suas declarações o meu MUITO OBRIGADO!)

"Eu tinha trinta anos quando a conheci, engenheiro civil formado e ela contadora, um ano mais nova do que eu,com pouco tempo de formação,mas com um bom emprego e família estruturada morando em Curvelo.

Foi um achado aquela moça,amiga de um amigo que nos apresentou meio que sabendo que seríamos o par perfeito. E fomos.


Namoro tranquilo,de muita cordialidade,muita segurança, famílias que mesmo com a distância da capital para Curvelo se entenderam bem e aos poucos íamos alçando voos, fazendo planos e adquirindo sonhos cada vez maiores.


Veio o namoro por dois anos e meio e a proposta de casamento em um restaurante que gostávamos, me lembro que pedi ao garçom uma mesa longe para que não houvesse muitos curiosos,sempre fomos muito discretos com tudo o que fazíamos.


Casamos no fim de janeiro de 2009, um cerimônia simples, mas muito feliz pela nova vida em família que estávamos formando.


Moramos de aluguel em duas casas diferentes até que resolvemos comprar o nosso apartamento próprio e ter o nosso cantinho de verdade, com o aconchego e as necessidades que queríamos para manter uma vida tranquila já visando filhos.


Foram seis anos de luta até que compramos nosso apartamento, logo após a Copa no Brasil. Enquanto o país reclamava do sete a um da Alemanha nós soltávamos fogos pela realização de nosso primeiro sonho.


Devido a luta pela casa própria, ou melhor pelo apartamento próprio acabou que deixamos um pouco de lado a gana de ter filhos,mas começamos a tentar sem pretensões reais, na verdade não nos preocupamos ou preservamos com aquela questão pensando que eu um cara de quarenta anos e ela beirando os trinta e nove não teríamos mais esse risco.


Nossos belos descuidos foram tanto que não percebemos que a menstruação havia atrasado ou qualquer outro sintoma, a descoberta foi dela,um grande susto que depois veio até a mim com o resultado do exame vindo no dia das crianças.


Assustados, mas felizes, talvez isso fosse nossa melhor descrição, após tanto tempo vendo passar sobrinhos,afilhados,filhos de amigos enfim teríamos a realização de um outro sonho que deixamos para lá, deixamos pra mais tarde como realmente ocorreu.


Pela idade fomos avisados que a gravidez era de risco, ela beirava os quarenta completou a idade durante a gestação,mas todo cuidado foi apenas precaução, assim como não vieram desejos, não veio qualquer indisposição,qualquer passar mal durante nove longos meses.


A descoberta do sexo veio através dela. Fui impedido de ir até o médico no dia da consulta para ver o sexo do meu bebê e olha que foram duas vezes de neném de perninha cruzada sem permitir que a mamãe e a titia (minha cunhada) vissem o que viria por aí. 


O dia em que eu soube foi especial por demais, eu já não tinha preferência, a criança estava com tanta saúde que era o que importava para mim, ouvia aquele bater forte e ágil do coração como um mantra e então recebi uma caixinha de onde vieram duas pequenas sapatilhas cor de rosa, eu vou ter uma menina.


A felicidade tomou conta, foram compras de vestidinhos,roupinhas,decoração de quarto, meu vizinho de porta se impressionava a cada vez que via eu e minha esposa sorridentes chegarem com sacolas e sacolas para nossa princesa.


Ele e a esposa também beirando os quarenta também desejavam muito um filho, como ele diz: Fiquei para trás entre os amigos,mas já tem a entrada para a adoção, não quis arriscar a gravidez de risco, mesmo assistindo a nossa de forma tão tranquila e sem qualquer susto.


Minha esposa trabalhou até o começo do oitavo, eu já estava no aguardo a tempos, trabalhava pensando em que roupinha comprar, em fraldas e tudo aquilo que um pai babão pensa e espera, foi um susto inicial, mas um bebê extremamente planejado dali em diante.


Eis que finalmente chega o dia do parto. Estávamos em casa nos preparando para tomar café, quando ela foi ao banheiro e me chamou dizendo que não acreditava ter feito xixi na calça, eu ri e a alertei.


"Amor,sua bolsa estourou, bora pro hospital"


A malinha já estava pronta, tudo certo para sairmos e lá fomos nós mudar nossa vida, felizes ainda lembro que no caminho ela relatou uma pequena dor de cabeça,mas a felicidade estampada no rosto dela era digno de se ignorar qualquer coisa, as contrações estavam ali.


Começava ali um calvário, a dilatação dela subia e a pressão subia junto, ia nas alturas, minha esposa com as contrações foi enfraquecendo e os médicos de prontidão e a examinando quase que de meia em meia hora.


Foi com oito centímetros de dilatação que chegou a bomba, ela entrou para a sala de anestesia e o médico me chamou com más notícias.


A pressão da minha esposa chegou a um nível acima do aceitável, meu bebê tinha pequenas complicações,o tempo era curto e o médico apenas disse para mim: É a sua esposa ou o bebê!


Entrei em choque, paralisado, não sabia pensar, como ou que, era uma filha amada e desejada ou a minha companheira de vida e eu tinha pouco tempo.


A mãe e a irmã dela foram chamadas até o hospital,já estavam instaladas na cidade devido a proximidade com o parto, eu ainda paralisado sem dar qualquer resposta e sem ter ideia do que fazer,como fazer até que foi contado a ela a situação.


Ela estava anestesiada,a dilatação ainda em oito centímetros, eu paralisado e ela não pestanejou: 


"Salve o bebê!"


Acredito que foi o momento de maior alternação de humor em minha vida, eu perderia minha esposa, poderia também perder minha filha, a família dela chegando em meio a todo o desespero da notícia e da situação como um todo e ela se despedindo.


Um a um ela deu sua despedida e recebeu a promessa de que cuidaríamos de nossa filha com todo o amor do mundo, tudo isso em pouquíssimo tempo, tudo muito rápido, mas parecia uma eternidade.


Os médicos iniciaram o delicado procedimento, eu assisti aquilo, adrenalina, tensão, eu já não sabia mais o que sentir, o que fazer, desde a escolha que acabei não fazendo.


Eu segurava a mão da minha esposa que deixava escorrer as lágrimas e ao mesmo tempo apertava a minha mão com um leve sorriso, ela estava segura,foi assim até a primeira parada cardíaca onde me pediram para sair.


Eu no bloco cirúrgico, minha esposa e filha lá dentro,a família lá embaixo querendo notícias e eu paralisado sem qualquer reação possível a não ser rezar e aguardar.

Soube que logo após a primeira parada cardíaca minha filha nasceu através de uma cesariana, mas infelizmente minha esposa não a viu, logo que eu saí ainda sem ver a minha filha ela apagou, apagou e não voltou mais.


Foram paradas cardíacas em simultâneo,hemorragia cerebral e ela veio a óbito, conforme o dito elo médico, conforme ela havia decidido com a coragem que sempre lhe coube.


Fui informado do nascimento da minha filha junto ao nascimento de minha esposa, pude entrar e ser o primeiro familiar a ver as duas.


Enfermeiras tentavam me dizer procedimentos padrão, falavam comigo, mas eu não sabia o que dizer pensar, nada,absolutamente nada, apenas fui com a minha filha nos braços até perto do corpo da minha esposa, de lhe um beijo na testa e loo pediram para que eu saísse 


Minha filha foi encaminhada para novos procedimentos, chegou a receber oxigenação enquanto eu descia e dava junto ao médico a notícia a família.


O abraço da minha sogra foi algo que me doía como nunca, uma senhora gigante que em meio ao choro tentava me consolar e saber da neta.


Foram algumas semanas difíceis a seguir. Velório, enterro, aprender a ser pai e mãe, recebendo ajuda para tudo e tendo na minha filha o amparo necessário para não deixar desabar tudo aquilo que eu havia prometido a minha esposa em sua despedida e com a minha filha nos braços diante de seu corpo.


Hoje minha filha tem pouco mais de dois anos, vivemos juntos no mesmo apartamento onde ela foi aguardada com muito amor, ela hoje vê a mãe por fotos e ainda não sabe bem quem é aquela mulher presente em muitos dos porta retratos com fotos dela pela casa.


Tenho a ajuda de babás, meus irmãos, vez ou outra minha sogra e minha cunhada estão aqui com ela, assim como ela também já foi até Curvelo, mas ainda falta ela por aqui ,falta a presença dela vendo a nossa filha sorrir,brincar,crescer tão linda e forte como ela tanto desejou até o último instante de sua vida.


Onde ela estiver está olhando por nós e nos protegendo, acompanhando tudo o que fazemos com o seu companheirismo de esposa e amor de mãe e minha filha um dia saberá de toda a história que a fez vir ao mundo e o motivo de multiplicar ainda mais todo o meu amor por ela."

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