quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Meu Primeiro Bebê.Doc (44)


(Pais de primeira viagem relatam as delicias e as amarguras da presença do primeiro bebê de suas vidas. Na série Meu Primeiro Bebê.Doc veremos relatos feito por pessoas que se despuseram a contar esse marco de suas vidas sem qualquer custo ou a precisão de revelar a identidade. A todos que aqui deram suas declarações o meu MUITO OBRIGADO!)

Por Gisela Blanco

"Nas telas do cinema e da televisão as grávidas sempre estão em um estado sublime,felizes e belas, mas na vida real não é bem assim. Na verdade ela é bem mais punk, um revolução de hormônios eu diria.

É uma parte da vida onde o corpo se deforma, a coluna dói,as pernas incham,o estômago se revira,a barriga coça e em certa altura até respirar fica difícil.


A gravidez,antes um processo tão central na vida de uma mulher vem se tornando cada vez mais um mistério tendo em vista que as mulheres de hoje em dia preferem ter menos filhos e tê-los cada vez mais tarde.


Um dia sem eu saber eu acordei com um protótipo de ser humano dentro de mim,assim como muitas grávidas que no primeiro mês de gravidez não sabem que estão grávidas.


No meu caso eu engravidei ao 25 anos,sendo que hoje em dia a maioria das mulheres adiam os planos de ser mãe para depois dos 30 tendo em vista que eventuais problemas de fertilidade podem ser contornados pela medicina.


Ao contrário da minha avó eu não fui treinada para ser mãe.Não sabia quase nada sobre uma gravidez de verdade e mal sabia que meu corpo estava prestes a sofrer um golpe de estado dos hormônios até passar por uma revolução.


Por insistência do meu marido fiz um daqueles testes de farmácia onde se reconhece o HCG (hormônio típico da gravidez) na urina e se tem o positivo.


É engraçado como a natureza prepara as mães para a gravidez. Aumentam-se os hormônios que se juntam aos clássicos enjoos, um misto de depressão,irritação,sono e cansaço. Pois bem, meu estado era esse.


Também pudera já que o organismo de uma mulher gestante em repouso trabalha mais do que o de uma mulher em estado normal subindo uma montanha. Então em três meses eu formaria a placenta que é quase um órgão inteiro parecido com um fígado além de ter meu metabolismo acelerado e meu sistema imunológico,mais fraco.


É meio que um mecanismo natural, afinal o bebê é um corpo estranho só que com identidade genética própria tal qual um órgão transplantado.


Fora que eu passava a ser uma hipocondríaca virtual, pesquisando absolutamente tudo o que eu sentia na internet até receber o alívio pela primeira ultrassonografia. Estava tudo ótimo. E aí a ficha finalmente caiu. Apertei a mão do meu marido. Seríamos pais.Choramos. Pronto, tá ai o momento bonitinho que víamos nos filmes que foi interrompido pela dura realidade: Um baita enjoo.


Os médicos recomendam que se espere até o fim do terceiro mês para contar para as pessoas sobre a gravidez já que boa parte das gestações terminam de forma espontânea nesse período. Claro que eu não aguentei esperar o que resultou numa sucessão de pessoas lembrando histórias terríveis como a vizinha que morreu junto com o bebê logo após a confirmação de que eu estava grávida.


Difícil saber por que as pessoas contam esse tipo de coisas,mas talvez contribuísse o fato de que eu não parecia estar grávida,até por que o embrião pesa cerca de quatro gramas, ou seja é quase uma uva, Irônico ser esse um dos momentos em que as filas exclusivas para gestantes são mais necessárias já que no terceiro mês os enjoos duram noite e dia.


Foi lá pelo quarto mês que a minha barriga passou de uma pancinha de chope para uma autêntica barriga de grávida. O marido passou a me achar linda e a me dizer isso diariamente, as pessoas me davam lugar no ônibus e nas filas e as coisas começavam a ficar boas.


No entanto eu já começava a sentir as dores dos ossos pélvicos se abrindo para a passagem do bebê. Era um festival de sensações esquisitas,pontadas no quadril,pressão no ventre como se alguém me puxasse para trás e muita coceira no abdome, sinal de que a pele se esticava.


Tenho 1,60 de altura e peso ideal de 50kg, os médicos recomendam que se ganhe 9kg durante a gravidez,mas eu ganharia 15kg. Desesperada segui todos os conselhos possíveis para evitar estrias,varizes,flacidez. Usei hidratantes para gestantes, fiz hidroginástica,comprei meias anti varizes que é uma verdadeira tortura e no fim descobri que o que pesa é mais a genética e como minha mãe não tem estrias respirei aliviada.


Foi no ultrassom do quarto mês que eu descobri que o feto na minha barriga era um menino. A proximidade com o dia das mães me fazia além de ganhar presentes me fazer realmente me fazer sentir como uma que era o que eu realmente mais queria.


A ligação emocional como o bebê na barriga não acontece de repente. Aquele desenho no ultrassom ainda era muito abstrato. Meu marido também não se via como pai.


Nessa época eu li o livro da filosofa francesa Elisabeth Badinter que se chama: O conflito, a mulher e a mãe onde ela não acredita que no instinto materno e diz que para os seres humanos a gestação envolve transformações psicológicas e sociais nada fáceis.


Pensamos, logo nos preocupamos em não termos mais tempo para nós, não poder trabalhar como antes,ter que alimentar e educar uma criança e ainda guardar dinheiro para comprar um vídeo game no natal. Curioso que o que me acalmou foi justamente um jogo:Guitar Hero, dado pelo meu pai.


Receber um "brinquedo" significava que eu ainda era filha também e que podia contar com as pessoas e continuar fazendo as coisas que gosto.Eu seria mãe,mas ainda era eu e aproveitei também para inscrever meu marido num curso para novos pais.


A essa altura a minha barriga já estava tão grande que pegar qualquer coisa no chão era digno de um contorcionismo incrível, tendo em vista que meu centro de gravidade ou melhor meu umbigo já não ficava na mesma posição por mais de um mês, pra compensar as grávidas em geral jogam a cabeça e a parte superior do tronco para trás resultando num andar torto e semelhante ao de um pato.


Lá pelo sexto mês é quando as minhas articulações ficaram mais frouxas o que poderia gerar mais tombos,além é claro de um sofrimento maior da coluna já que o meu bebê aquela altura já estava quase um saco de arroz.


Deixei a preguiça e o computador de lado e fui fazer uma ioga para grávidas. Aprendi técnicas de equilíbrio, novas maneiras de abaixar e levantar, formas de ir pro chão só agachando ao invés de ir pra frente. Aprendi também a dormir mais de lado e a sair da cama apoiando as mãos no colchão e de uma forma geral a me movimentar melhor o que me possibilitou fazer a faxina de casa até o último mês.


Na reta final da gravidez os exames passam a ser muito chatos. Lembro de tomar 200ml de pura glicose,rosada e mais doce do que qualquer refrigerante ruim que se possa imaginar para evitar uma detectar uma possível diabetes gestacional. Foi sofrido,mas passei no teste.


Era estranho pensar aquela altura que o bebê nadava em minha barriga em uma boa porção de liquido aminótico que também dizem ser doce,além de fazer xixi e bebê-lo novamente,tendo unhas,cabelo. Contudo era divertido imaginar meu bebê rodopiando,chutando e socando a minha costela e todas aquelas sensações e movimentos. 


Quer dizer isso quando o chute na costela não era tão forte a ponto de me assustar ou quando a movimentação a noite era intensa e eu não conseguia dormir. 


Dormir alias é o conselho preferido da maioria das pessoas para as grávidas,até por que depois que nascer... Mas levando em conta que eu levantava de três a quatro vezes para ir ao banheiro durante a noite ou por chutes na costela podemos dizer que dormir não era exatamente o que eu fazia.


Era o oitavo mês quando eu entrei em uma farmácia e o farmacêutico me perguntou se eu esperava gêmeos,aquela altura não esperava que minha barriga pudesse crescer mais mesmo meu bebê tendo ali por volta de 1,5 e ainda fosse dobrar o seu tamanho.


Vez ou outra eu percebia um pezinho se arrastando pela minha barriga, era legal,mas não deixava de ser uma sensação estranha, foi nessa época que o bebê ficou de cabeça para baixo e se encaixou o que apertava ainda mais meu diafragma e respirar parecia ser o mais difícil mais não era.


Nessa época eu já estava bem inchada, no fim do dia meus pés pareciam uma pantufa de tão inchados. Passei a contar os dias para o fim da gestação, mas também por ansiedade e vontade de ver logo o rostinho do bebê. Mas admito que sinto falta da barriga desde aquela época, ela era perfeita pra apoiar o balde de pipocas e ver um bom filme,algo que fiz muito durante a gravidez.


Durante toda a gravidez meu marido passou repetindo uma teoria que ele leu no livro "Eu primata" do cientista Frans de Waal: "Durante a evolução quando viramos bípedes,ganhou o páreo quem tinha a bacia mais chata e gastava menos energia para andar. A bacia arredondada ficou para trás. Por isso nascer ficou tão doloroso e difícil para nós." Ainda bem que as coisas evoluíram e inventaram a anestesia.


Fui decidida a realizar o parto normal e tomar a bendita injeção.

Meus amigos fazendo um bolão para acertar o dia. Ninguém ganhou.

Esperei o máximo possível, passaram-se 42 semanas,ou 10 meses e foi preciso induzir o trabalho de parto.


Os médicos injetaram ocitocina direto na minha veia e logo ela resultaria nas temidas e dolorosas contrações. 


Todo o processo durou doze horas. Durante esse tempo eram contrações cada vez mais fortes e doloridas tal como se alguém apertasse a minha barriga por dentro.


Mesmo assim era um clima tranquilo. Meu marido o tempo inteiro ao meu lado fingindo estar super bem e nada nervoso.


Eu caminhava pelos corredores do hospital, fazia exercícios de ioga. Chegamos até a começar a assistir um episódio da série The Office no notebook que eu precavida havia levado. Isso até a bolsa estourar.


Veio um aguaceiro e junto com ele as dores mais fortes que já senti em toda a minha vida.


Para o meu marido eu gritava: "Estou quebrando no meio"

E para as enfermeiras: "Chama o médico! Anestesiaaaa!"

Quando o médico enfim chegou e me examinou. Não havia dilatação alguma. Não havia como o bebê passar e precisaríamos ir para o plano B: Cesária.


Foram cerca de vinte minutos de cirurgia e tiraram meu bebê de lá de dentro.


Meu marido se acabava de chorar. Já o bebê só começou quando cortaram o cordão umbilical.


Perdeu a fonte de oxigênio que vinha de mim, mas passou a usar os próprios pulmões. 


Estávamos desconectados. Ele ganhava o mundo e eu um filho. Que agora seria meu companheiro  em tantas outras descobertas como mãe."

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