quinta-feira, 11 de maio de 2017

Meu Primeiro Bebê.Doc (19)


(Pais de primeira viagem relatam as delicias e as amarguras da presença do primeiro bebê de suas vidas. Na série Meu Primeiro Bebê.Doc veremos relatos feito por pessoas que se despuseram a contar esse marco de suas vidas sem qualquer custo ou a precisão de revelar a identidade. A todos que aqui deram suas declarações o meu MUITO OBRIGADO!)

"Eu levava a vida com simplicidade, na época trabalhava numa montadora de automóveis, tinha ótimo salário até que em tempos de crise como essa em que vivemos agora eu e muitos outros nos vimos em apuros pós uma greve trabalhista na fábrica e ficamos desempregados.

Sempre muito decidida e me achando em uma situação contraditória fiz mudanças radicais para sobreviver. Nada era como antes.


Dois meses após a demissão em massa consegui um novo emprego em uma indústria de relógios e jóias. O salário era trinta por cento menor, mas suficiente para que eu em companhia de uma colega de trabalho também em apuros alugasse um apartamento e dividíssemos as despesas. Uma solução para ambas.


Foi uma decisão acertada por um bom tempo. Meu novo trabalho deu-me condições de continuar tendo minha independência financeira sendo ainda arrimo de família para mães e irmãos mesmo em uma época muito difícil e com greves por todo o país.


Conheci meu companheiro por intermédio de uma amiga que era conterrânea dele e nos apresentou durante a comemoração do aniversário dele. 


Ele havia nos convidado para comer um quibe cru a moda síria com todos os acompanhamentos no bar em que ele ainda é proprietário e personalizou a iguaria para a confraternização.


Aqueles tempos eu já era uma curiosa dos truques de cozinha e sempre gostei de cozinhar. Ele se aproveitou desse pormenor e se convidou para almoçar uma galinha ao molho pardo, uma comida tipicamente mineira e que sem falsa modéstia eu sou expert.


Além disso ele queria se redimir de um pequeno incidente acontecido no seu bar onde eu fui protagonista. Meus cabelos compridos na altura da cintura esvoaçaram e se agarraram a hélice de um ventilador atrás de uma cadeira a qual eu havia sentado. 


Ele se desculpou muito e se comprometeu a visita para se certificar que eu ficaria bem.Uniu a preocupação momentânea ao convite oportuno.


Após o almoço ele passou a nos fazer visitas esporádicas. Levava quitutes e petiscos feitos por ele no bar e acabei me encantando pelo seu jeito bem mineiro de falar baixo e pausado.


Começamos a namorar, mas éramos muito tímidos.


Ele estava se separando da mulher e tive muito medo de problemas com a ex mulher e com os três filhos pré adolescentes. 

Eu era solteira e sempre dei atenção aos conselhos da minha mãe, mas era solteira e não tinha anda que me impedisse de gostar de um homem como ele. 


Nos entendíamos com o olhar. Sabíamos o que um e o outro queriam e decidimos enfrentar juntos todas as situações.


Nesse meio tempo minha colega de casa que já namorava a algum tempo se casou e voltou a morar com o marido em sua cidade de origem me deixando só com as despesas do apartamento.


Ela fez pequenas dividas que acabaram por me comprometer e não pensou em mim ao seguir a vida com seu esposo. Uma beira de irresponsabilidades que foi muito bem aproveitada pelo meu companheiro.


Ele fez a proposta de me amparar financeiramente,quitando os débitos do apartamento e me convidou para morarmos juntos, já que não conseguíamos ficar separados.


Em seis meses de relacionamento unimos nossas vidas. Ganhei um marido e três crianças, uma família completa. 


Segui trabalhando e cuidando da minha nova família e assim assumimos para nossos amigos e família.


Dois anos depois senti vontade de ter um filho. Meu companheiro já não pensava em ter mais,até por que já tinha três meninos e caso eu engravidasse agora ele gostaria de ter uma menina. Era seu sonho de pai.


Quando me descobri grávida eu já estava entrando no terceiro mês. Sempre tive um ciclo menstrual irregular e não tive nenhum sintoma que me prevenisse para tal, mas a descoberta foi simplesmente linda para mim, inesperada.


A descoberta se deu quando sonhei que perdia a hora para ir ao trabalho por que dormira demais ao lado de um bebê dourado de bochechas coradas. Acordei lentamente ao sentir sobre meu rosto suas mãozinhas quentinhas e macias e ao abrir os olhos seu rostinho virado para mim com um sorriso banguelo.


Era domingo muito cedo e eu fiquei ali na cama,em silêncio, pensando no sonho que eu tivera. 


Meu companheiro estava no banho se arrumando para sair e ir realizar seus afazeres no bar. 


Fiquei ali na cama de olhos fechados,meu companheiro olhou-me e decidiu ir embora pé anti pé para não me acordar. Ele se foi e eu me levantei indo até o espelho e me apalpando.


Antes eu pesava quarenta e nove quilos, era magra e estava sentindo minhas roupas de dormir ajustadas ao corpo.


Alguém havia percebido e me dissera: Você engordou! Está mais bonita.


Eu me lembrei disso e vi meus mamilos endurecidos, pontudos, minha pele estava mais lisa, brilhante, me senti diferente, maior,a barriga também estava dura. Comecei a pensar a quanto tempo não menstruava.


Tenho até hoje o hábito de anotar tudo.

Tirei da minha gaveta uma caderneta com várias anotações e fui ver se tinha anotado a última vez que ela tinha descido. Fiz as contas e eram setenta e seis dias. Incrédula eu ri sozinha me olhei no espelho e disse: Vou ser mãe!

Durante todo o domingo fiquei radiante, cantarolei, fiz um almoço simples e cheiroso e fiquei a espera do meu companheiro para lhe dar a notícia.


Almoçamos e ele foi para a sala de televisão aonde eu o acompanhei. Me pus a olha-lo e disse: Tenho uma coisa para te contar.


Ele perguntou o que era e eu disse


Ela que havia se deitado no sofá se levantou assustado e perguntou: E agora o que nós vamos fazer? Em seguida começou a rir e eu respondi: Esperar!


Se para mim havia muita expectativa para ele pai de três meninos não. Era mais um. Mais uma boquinha,mas senti que ele estava feliz.


Ele se envaidecia da sua performance masculina e a todos se vangloriava alegremente enquanto eu continuei exercendo duas funções a de dona de casa e a de secretária executiva no trabalho.


Meu companheiro trabalhava muito e após dois anos de relacionamento ele ainda estava as voltas com os problemas com a ex mulher e os filhos que andavam numa idade crítica e exigiam atenções com a adolescência chegando rápido além de se sentirem um tanto enciumados pelo novo irmãozinho que estava por vir.


Incentivados pela ex mulher dele, os garotos se tornaram um pouco rebeldes. Não foi fácil, mas conseguímos resolver todos os contratempos que apareceram.


As primeiras consultas médicas foram comuns a todas as grávidas. Instruções para ter cuidados, exames necessários, vitaminas, vacinas, cuidados alimentares. 


Nas duas primeiras consultas eu fui sozinha. Na terceira ida o médico pediu que o pai me acompanhasse. Abordamos vários assuntos e ao final da consulta fomos informados que minha gravidez era de risco devido a minha idade na época.


Eu estava com trinta e cinco anos e era meu primeiro bebê. Foi marcada a minha primeira ultrassonografia e eu deveria seguir todos os procedimentos necessários, mas eu me sentia tão bem, tão feliz.


Fomos a praia em uma semana de férias. Eu estava caminhando para o sexto mês, ao chegar ao local do passeio me senti cansada. O ritmo do meu corpo havia mudado. Meus pés e pernas estavam mais inchados, muito ressecados e as dores nas costas também apareceram. O pai do meu filho cuidou muito bem de mim. No dia seguinte já me sentia bem e nos divertimos muito.


Quando voltamos das férias fomos a consulta médica e contamos o ocorrido ,ele me consultou e constatou que estava tudo bem com os BEBÊS!


Emudeci, foi um susto! Eu não sabia que estava grávida de gêmeos.


O médico colocou o aparelho para que eu escutasse o coração em meu ouvido e ouvi o coração dos meus bebês. A emoção me dominou, chorei muito.A partir dali todo cuidado era pouco.


Após as férias e a consulta médica houve muitos transtornos em meu organismo que não me fizeram bem, até que em uma tarde do trabalho senti uma fisgada abaixo do umbigo e imediatamente uma água amarelada e grossa me escorreu pela pernas.


Fui as pressas para o consultório médico e tive o que chama de bolsa estourada. O médico pediu que parasse de trabalhar e que me afastasse do trabalho. Eu tinha férias vencidas e antecipei minha licença maternidade .


Eu já não tinha a mesma destreza, caminhava lentamente, sentia dores abaixo do umbigo e me impressionava muito com a cor da minha urina.


Do sétimo até a entrada do oitavo mês eu ficava horas deitada ou sentada. Evitava movimentos mais bruscos, pois a cada movimentada mais rápida minha roupa logo se molhava inteira com a água amarelada e grossa. Como minha gravidez era de risco fiz tudo que era pra fazer.


Meu único filho nasceu com oito meses e três dias de gestação, ás quatro e quarenta e seis da tarde de uma quarta feira. Eu havia ido a uma consulta médica pela manhã e já saímos de lá com a guia de internação para fazer o parto de cesariana.


O outro bebê sofreu um teratoma neonatal que se calcificou dentro do ovário. Foi preciso seccionar o ovário direito e enviar para a biopsia. Sofri muito, mas a felicidade por reconhecer o bebê que antes me acordava nos sonhos foi uma alegria incontida.


O meu bebê de mãos quentinhas,macias, lindo de cabelinhos vermelhos, coradinho e esfomeado. Uma sensação maravilhosa e inesquecível.


O pai deixou a meu critério escolher o nome, por isso escolhi o nome sozinha. Comprei uma revista de nomes, mas acabei fazendo a escolha numa revista que eu havia comprado para o filho mais novo do meu companheiro.


Um álbum de figurinhas de futebol com todos os jogadores do ano vigente. Comprávamos sempre figurinhas para colar nesse álbum e achei interessante a figura de um goleiro e acabei por copiar esse nome.


Ser mãe para mim até hoje foi e é o maior presente que Deus me deu. Uma experiência indescritível que só quem é mãe e sentiu essa força sabe dizer.

Sinto saudade até hoje dos momentos da amamentação ,dos primeiros trejeitos, o primeiro sorriso, o vermelho da primeira picada de pernilongo. Guardo na memória as gracinhas e até o som da primeira palavra que ele pronunciou brincando com o pai.

Como esquecer a descoberta do primeiro dentinho e de como ele se soltou de minhas mãos e correu atravessando a sala de uma parede a outra, no aprendizado antes mesmo de saber andar distinguindo as cores no sinal, lendo nomes nos objetos e nos refrigerantes são muitas lembranças.

Ao ver meu filho hoje sinto que fui de alguma utilidade nessa vida. Tenho guardado comigo muito dessa dádiva divina que é ser mãe."

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