quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Virgem.Doc (36)


(A virgindade é um fato marcante na vida de qualquer pessoa, por isso, na série Virgem.Doc veremos relatos feitos de forma sigilosa com pessoas que se dispuseram a contar esse marco de suas vidas e claro terem suas histórias divulgadas aqui sem qualquer custo ou identidade a ser revelado. A todos que aqui deram suas declarações o meu MUITO OBRIGADO!)

"Eram outros tempos, acho que me senti até de certa forma uma mulher muito madura tendo em vista que na época a mulher não tinha lá tantos direitos frente a sociedade, não era nem mesmo vista com tanta boa vontade. 

Minha mãe era a típica representante dessa classe, eu fui a segunda filha, pros padrões da época felizmente para ela veio primeiro o "varão" o filho homem, meu irmão nunca ostentou para si esse título, sempre foi um irmão carinhoso, assim como meu irmão mais novo que veio apenas um ano depois de mim.

Mas obviamente me protegiam, eu era a garota a ser escoltada, meu pai me tinha como o bibêlo da família, meus irmãos desconfiavam de qualquer olhar malicioso que eu no auge da minha inocência pudesse sonhar.

Casava-se cedo, eu tinha se muito dezenove anos, mas apesar de se unir corpos assim, a preocupação maior era não perder a honra da família, constituir uma herança que pudesse fazer jus ao nome, coisas que hoje não perderam valor, mas sim importância.

Acho que fui feliz e sortuda ao mesmo tempo. Meu pai trabalhava numa industria grande, não eramos ricos, mas de boas condições, logo havia o interesse de uma família de posses iguais de se juntar, parecia mesmo com as novelas de época que víamos por aí.

Eu mocinha, namorava na sala, com a presença do meu pai e o meu pretenso namorado que pra época já tinha status de noivo vinha e me cortejava a noite toda. Beijos no máximo um selinho e olhe lá, hoje vejo as coisas mais liberais e até não repudio que seja assim, as pessoas amadurecem mais rápido.

Perder a virgindade pra mim teve um sabor especial. Eu já havia me casado, um belo evento, com pompa, convidados e passaria ali a morar com o rapaz, meu noivo e agora marido.

A parte de sorte que falei e que ele sempre fora um bom rapaz, afinal estamos aí comemorando bodas até hoje, somos casados e temos uma linda família, hoje mais libertária do que a da época.

Lembro do quarto de hotel. A lua de mel que passamos no interior, o friozinho e o abraço de um homem que até hoje demonstra para mim, nossos filhos e netos todo o carinho que um patriarca deve ter com a sua família.

Não teve a agitação, sangue, suor, foi romântico, um vinho (acho até que fora a primeira vez que bebi algo alcoólico), uma cama linda e decorada com rosas e todo o amor que preservamos após trinta anos de casados.

Hoje certamente não faria todo o respaldo que meus pais fizeram comigo, na verdade não fiz com minhas filhas e não as vejo fazendo com minhas netas, apenas avalio que os tempos mudaram, eu tive mais cuidados, mais romantismo, mesmo que tudo fosse exagerado demais para o lado protetor e arcaíco de que a honra e a familia salvariam tudo.

Eu podia não gostar do escolhido para ser meu marido, poderia não ter dado certo e termos nos divorciados e eu ter ficado mal falada, algo que para hoje parece até ridículo, minha neta mais velha certamente riria de mim, mas foi assim, no amor, na sorte e no destino que uniu a mim e a toda a minha família."


Nenhum comentário:

Postar um comentário