sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Carta ao surto



Estava tudo em águas calmas...

Tudo como deve ser...

Aquela vida pacata onde acordamos cedo, dormimos ainda mais cedo e nesse meio tempo vamos vivendo nossa vidinha tranquila, em maré mansa, águas rasas e sem qualquer tipo de preocupação fora da curva.

Mas quanto tempo resistimos sendo normais dentro de nós mesmos?
Quanto tempo podemos suportar todo o tipo de pressão sem explodir?

Estagnados, parados,mas é como dizem por aí. Águas calmas não fazem bons marinheiros

E é isso que somos, marinheiros de uma vida inteira tomada em mar aberto onde há também outros barcos que se acoplam ao nosso e navegam juntos.

Que venham as tormentas, elas não poderiam deixar de existir.

Há tormentas passadas que maculam as águas
Há aquelas onde o nosso barco ganha corrosão, não racha, não quebra, segue navegando, mas se deteriora.

Tudo na vida se deteriora, com mais ou menos tempo, mas se deteriora.

O surto se dá pelo acumulo. Pela sequência improvável de situações que fujam do nosso controle e oportunidade que nos escapem dos dedos gerando assim pequenas frustrações que vão sobrepondo as alegrias da vida.

Sim, a vida não é só tristeza e mais dia menos dia você descobrirá que a alegria pode lhe sorrir de volta.

Mas por enquanto não, por enquanto é pressão mesmo. 
É a vontade de ir ali correndo e atar os laços do passado e fazer um único elo entre passado, presente e futuro até mesmo para poder seguir.

Infelizmente tem pontas soltas do passado que não se devem mexer, enquanto a outras que devem ser sanadas e postas em frente para evitar que possamos surtar sem motivo, arranjar crises inexistentes e mudemos nossa vida apenas por uma ponta de orgulho ou pela vaidade descabida.

Foi uma, foi duas, foram três pancadas e BUUUM.

Foi pelos ares. 

Pelos ares foi a história
Pelos ares foi o respeito
Pelos ares foi a consideração.

No chão ficaram a vaidade, o orgulho e a vontade de mudar tudo em meio aos impropérios ditos sem a menor resquício de remorso. Devaneio, loucura,mas o que é isso? Tormenta, tsunami, maré alta, cheia.

Eis o grande marinheiro, eis aqui a vontade de resolver tudo, mas eis aqui também a frustração de ser ignorado, de ter sido atropelado em vontades e em palavras não ditas.

Certos sábios dizem que se você engolir tudo o que sente você se afoga,mas e se soltarmos tudo na hora errada?

E se dissermos tudo aquilo que pensamos de forma desenfreada, solta,sem compromisso e bater o arrependimento,bater a verdadeira noia de ter feito tudo errado,quando na verdade era a hora de ter resolvido.

O que fazemos então? Surtamos de novo?
Tentamos resolver de forma torta e desconexa tudo de errado que aprontamos?

Não dá! Não vai rolar.

O surto foi dado, a palavra maldita foi proferida e ações e reações foram feitas. 
Escolhidas ou não elas geram consequências e amargas lembranças do que não deveria ter acontecido.

Vai passar sim.
Uma hora tudo aquilo vai ficar para trás e vamos achar todo esse rebuliço uma bobagem, mas até lá a fase ruim fica na cabeça, como nuvens negras de chuva a providenciar que o sol não se abra para nós.

Os barcos se separam, vão seguir navegando por aí. 
O  acoplamento!? Esse vira mais uma ranhura, mais uma marca passada que provavelmente se for reparada não terá a mesma consistência.

O mundo gira, não é em torno de nós, mas de tanto bater se desaprende a apanhar e quando começarmos esse aprendizado vai ser uma surra daquelas.

Dá saudade sim, dá vontade de tentar de novo, mas também dá medo, muito medo de ver o surto tomar conta de tudo de novo.

Neguemos então, deixemos para lá. 
O tempo passou e agora é a hora de acumular ranhuras não de surtar novamente.

Até lá paremos para refletir. 

Encare isso como um até breve, se muito um dia eu volto aí, só não vá surtar, assim eu terei toda a certeza que os barcos não vão mais se encontrar e teremos ali o nosso adeus.

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