quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Meu Primeiro Bebê.Doc (31)


(Pais de primeira viagem relatam as delicias e as amarguras da presença do primeiro bebê de suas vidas. Na série Meu Primeiro Bebê.Doc veremos relatos feito por pessoas que se despuseram a contar esse marco de suas vidas sem qualquer custo ou a precisão de revelar a identidade. A todos que aqui deram suas declarações o meu MUITO OBRIGADO!)

Por Paulo Vitor Santos Gonçalves

"Eu nunca fui do tipo que sonhava com o amor e com suas possíveis variáveis,até achava que ele existia,mas que com o tempo nos esquecíamos sobre como ele era e como demonstrar ele a outra pessoa.

Frustrações amorosas fazem parte disso.

Você começa um namoro aqui, um casinho ali e logo se vê envolvido, namorando.

Eu havia tido um namoro longo, um quase casamento onde o mais surpreendido era o noivo, pequenos casos sem a importância até que conheci a amiga da amiga e tivemos um rolo, viramos amigos, mas a coisa não andava, não era pra gente.

Éramos muito melhores como amigos do que como namorados ou ficantes.

Ela teve a melhor ideia de sua vida: "Olha vou te apresentar uma amiga e tenho certeza de que vocês vão encaixar, vai dar tudo certo." Deu tudo certo.

Estávamos em meados do começo de Abril de 2016, marcamos todos de sair me recordo bem no dia quinze do mesmo mês, faltava pouco para meu aniversário, dois dias depois.

Saímos todos para um bar, se não me engano era a comemoração do aniversário de uma amiga,mas na verdade nunca precisamos de motivos certos para sair,se divertir e principalmente beber.

O destino parece engraçado as vezes, fomos apresentados,mas de primeira apenas a lembrança de que já nos conhecíamos, veio de outros tempos,mas não aconteceu ali, não era pra ser e acabamos tendo outras situações que evitaram que ficássemos juntos.

Não trocamos telefone ali,foi apenas uma reunião de amigos,mas quando é pra ser não tem jeito. 

Pouco depois estávamos conversando pelo whatts e marcando de sair, se ver e se conhecer de verdade.

Foi no dia vinte de abril. Passei mal o dia todo,sabe-se lá por que e não ia sair de casa,mas acabamos marcando um churrasco com amigos e logo estávamos lá sentados. Ela envergonhada, eu ali pensando em como matar um gato que insistia em me encarar e logo estávamos sozinhos num banco.

Foi rápido, foi instantâneo,não dá pra descrever somente em palavras,mas assim caminhamos. Dia seis de maio já estávamos namorando, com direito a pedido,mais um pouco de vergonha e a certeza mais que absoluta que o caminho estava certo.

Seria mentira dizer que houve planejamento sobre uma gravidez. Nos precavemos, mas pecamos em detalhes, mal sabíamos que seria nosso "pecado" mais lindo.

Recebi a notícia ao telefone, sabia das dúvidas, do atraso, mas estava distante. Foi o suficiente para não sair do prumo,mas para caminhar ao léu até uma praça, sentar lá por algum tempo e dar a notícia para pessoas a quem considerei importante.

Lembro de parar em meio a praça, olhar para o céu e silenciosamente pedir que viesse uma criança saudável,abençoada e cheia de vida.

A primeira impressão que seria de susto não foi tanto pela minha parte. Sempre achei que ao receber essa notícia eu cairia para trás e teria um medo tremendo daquilo que estava por vir. Não foi bem assim.

Tive críticas, tive boas impressões inclusive com uma amiga me dando diretamente o desejo de feliz dia dos pais e me afirmando que eu seria um excelente pai e aos poucos a ideia de ser pai a maturidade paterna foi me atingindo pouco a pouco.

Em minha vida eu sempre quis ouvir de pessoas as coisas e adaptar para a minha vida o que poderia me ajudar. É diferente de copiar a outra pessoa,mas ouvir e se aconselhar. Assim ouvi do marido de minha prima que o pai só realmente se torna pai quando toma o filho nos braços pela primeira vez.

Ou seja, logo eu poderia esquecer o coraçãozinho ouvido pela primeira vez e guardado até hoje através de um áudio precoce como diziam os médicos, ou o único desejo de uma empadinha enquanto eu trabalhava em uma cidade vizinha e claro, bem distante da ligação umbilical que a mãe tem com o filho.

Sendo pai aprendi que não se conta com todas as pessoas para tudo, mas se reconhece as mais importantes,aquelas que de uma forma ou de outra você levará consigo pela vida e claro pela vida do seu bebê. 

Não havia preferência, mas havia a disputa por nomes, havia o namoro as roupinhas de meninas e meninos,mas uma leve quedinha não só minha,mas de minha companheira por ver as roupinhas e detalhes que envolviam uma bebê do sexo feminino.

Entre Valentinas,David Lucca,Eliandros e até mesmo,pasmem o "masculino" Cristal, eis que surge Enzo, Enzo Gabriel para ser mais exato.

A notícia de que era um menino nos fez partir com mais afinco para preparar tudo, cada mês era de imensa ansiedade e vontade de ver logo o rostinho de uma criança mais que esperada.

A barriga enorme fazia com que cada vez mais sentíssemos a presença dele, até por que no carnaval ele já dava seus chutes, a cada ultrassom uma gracinha, era uma lambida na mão aqui,um tchauzinho ali.

Passou fevereiro e me lembro bem de estar aqui fazendo uma carta quase que psicografada sobre como Enzo ainda na barriga se preparava para vir ao mundo e conhecer a mamãe, foi um carnaval de lágrimas, escondidas, já que a mamãe não gosta de se deixar ver em meio as lágrimas.

Veio março, veio abril e as datas iam se multiplicando, já estava quase aprendendo a contar em semanas, até que chegamos a quadragésima primeira semana. A data foi quase no meu aniversário, quase na data do nosso primeiro beijo.

Cheguei ao hospital na parte da tarde já sabendo que a indução do parto havia começado, era por volta de duas da tarde e ficamos por lá, aguardando que as contrações começassem para que o parto normal fosse feito e Enzo viesse ao mundo.

Demorou um pouquinho, lá pelas oito e pouca da noite começavam as contrações,pequenas e depois grandes dores e eu ali, pensando em como uma mulher pode se tornar forte e conversando direto com outros pais que estavam ali na mesma situação ou já com os seus filhos a ganhar alta, forma-se ali pequenas breves amizades que você acaba não esquecendo.

Já passava das onze horas quando fomos para a sala de pré parto, dores e contrações a perder de vista, mas nada da bolsa estourar, a dilatação ali entre quatro e cinco centímetros e banhos a perder de vista.

Foi ali que eu entendi a ansiedade que mães e pais que tanto relatei aqui no blog sentiam. Impressionava como alguns chegavam e logo os bebês iam nascendo,enquanto a madrugada ganhava corpo e eu via os médicos vagarosamente irem de um lado para outro sem pressa,enquanto minha companheira ou tomava plasil para conter os vômito (foram duas doses) ou tomava glicose já que o plasil além de lhe fazer parar o vômito fez também com que as forças se esvaíssem para Deus sabe lá onde.

A ideia de reclamar com os médicos e xinga-los já vinha com maior constância. O desejo pelo parto normal já se fora a tempos e ás três da madrugada fomos informados que se quisessemos uma cesárea seria apenas de forma emergencial ou pela manhã.

Estoura-se a bolsa então. Tive de convencer a mãe, ela já havia sentido dores e cansaço demais, mas quem sabe assim com a bolsa rompida a dilatação não alcançava logo os benditos dez centímetros e a gente conseguiria ver logo o nosso Enzo.

Foram ainda mais algumas horas,mais alguns choros por parte dela e novos banhos até que na troca de turno da manhã, por volta de sete horas que atingimos os oito centímetros.

Celular eu já não respondia mais, médicos eu já escolhia qual xingava ou me segurava para não forçar tanto. Pobre enfermeira que chegava aquela hora para trabalhar.Era eu me vestindo e ela tomando um senhor esporro pelo "descaso" com o qual eles permitem que a grávida sofra dores por horas e horas. Violência obstetrícia para alguns.

Me deram a acalorada roupa verde,touquinha e lá fui eu esperar o parto.

Uma salinha de espera até que preparassem tudo e uma bendita porta que aliada a um maldito telefone que não parava de tocar. Já era manhã do dia vinte um, feriado, mas eu ali vendo a porta abrir e fechar e nada de ninguém me chamar para a sala.

Vem a moça e opa, entrei. A companheira da noite, recheada de dores sumiu, estava lá sentadinha, feliz e contente na sala um tanto quanto quente que eu acabará de entrar.

-Oi amor! Disse ela com uma carinha ótima.
-Você tá bem! -Lembro de dizer ainda um tanto espantado e vendo médicos para lá e para cá enquanto ela ainda fazia um pouco de força para superar os nove centímetros.

Foram duas exatas horas, eu já sentado atrás delas ajudando, enfermeiras a mexer no celular e nada. Se eu estava cansado, imagina ela.

Cansaço esse que passou quando ela me disse que já sentia as costas, era o duro sinal de que a anestesia já tinha ido embora. O efeito se foi.

Novo pequeno esporro em enfermeiras folgadas, incluindo uma que disse que a dor era boa para sentir o bebê nascendo,enquanto por muito pouco ela não ouviu que seria ótimo esmurra-la e ter o mínimo de compostura e decência com pacientes.

Finalmente a decisão de que seria uma cesárea. Aquela mesma que desde antes da sala de pré parto tanto pedíamos e olha que nem a mamãe e nem o papai aqui eram médicos.

Achei que ficaria ali, dando apoio, mas adivinha, voltei para a bendita salinha onde a porta não conseguia se fechar e todos os médicos passam te olhando com a cara de: Esse aí não sabe o que lhe aguarda.

Dessa vez foi mais rápido, entre e já tinha os preparativos para o parto. Minha companheira deitada, eu ali ao lado em pé e ela já aberta e eu achando que de pé ficaria e a médica apenas disse: "Olha acho que é melhor você se sentar,senão teremos de cuidar de você e dela."

Eu me sentei, tudo bem, melhor seguir as ordens, já havia xingado aquela profissional demais mentalmente e havia mais coisas a me preocupar. 

A mãe ali pálida, eu acompanhando o trabalho dos anestesistas e descobri que não poderia filmar, mas sim tirar fotos do nascimento. Exceto pelo fato de que com tanta gente querendo saber do bebê então a bateria do meu telefone e do telefone dela foi pro saco, não tinha como tirar fotos.

Dane-se, vamos nascer Enzo, vamos esquecer as fotos e depois vemos isso. Um tempinho depois o choro veio, as lagrimas da mãe também e eu erguendo a cabeça para ver meu filho e "ser pai" literalmente pela primeira vez o tendo nos braços.

A enfermeira finalmente deu a ordem e lá estava eu diante dele e aguardando o tomar em meus braços algo que não foi permitido de primeira. Ele como sempre bonzinho chorou um pouquinho, mas logo que foi posto no peito da mãe cedeu aos encantos dela e parou de chorar num vídeo gentilmente concedido pelo anestesista do hospital Sem ele Enzo não teria fotos dos seus primeiros minutos de vida.

Acho que toda e qualquer crítica feita a mim e ao fato de que rapidamente tivemos um bebê com tão pouco tempo de namoro é superada ali. Nossa vida se concentra a um ser maravilhoso a quem todos os dias repetimos o ritual de agradecer pelos seus sorrisos banguelas, pela forma orgulhosa que ele tenta se sentar e ver as luzes ao seu redor.

É um eterno descobrir de sensações que tenho hoje e a cada suspiro a mais em minha vida. 

Eu poderia dizer sim que descobri o amor convivendo com ele, mas seria hipocrisia. Foi antes dele, foi antes de tê-lo em meus braços. Enzo na verdade é a materialização dessa amor. A projeção física de que eu posso ter o meu coração fora do corpo.

A vida tomou um novo sentido e direção,mas todos os sentidos e direções convergem para ele.

Enzo Gabriel."

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