Nossa infância de rua

É inevitável ter uma certa ponta de nostalgia,não precisávamos de muito e logo a diversão estava ali,ao alcance dos dedos,das esquinas das ruas por onde brincávamos sem qualquer compromisso firmado exceto o fato de sorrir e ser feliz.

O tempo tantas vezes cruel e incapaz de apagar totalmente aquilo que ele para trás. De certo que ele passa nos faz mais experientes, mais certeiros daquilo que fizemos e que repetiremos ou não,mas a tal da saudade acaba que fica,faz morada.

Saudade claro das coisas boas, daquele cheiro de biscoito que a avó zelosa fazia,da terra presa a nossas roupas de tanto correr pela rua e até mesmo do tampão do dedo arrancado diante daquela difícil partida de futebol contra o time da rua debaixo.

Ah os amores,aqueles que fizemos escondidos nos muros,de beijos inocentes roubados até um pegar na mão discreto,contido,temeroso de reprovação e de uma sonora sova de nossos pais e mestres.

As lembranças serão sempre acumuladas,empilhadas uma a uma em nossas cabeças fazendo com que vez ou outra nos recordemos em recortes daqueles que passaram por nossa vida e fizeram sua marca de uma forma ou de outra e que compõem a nossa vida e toda a rede de convívio que temos hoje.

Bendita hora em que o tempo passou
Bendita hora em que nossos anseios juvenis,inocentes e desavisados acabaram por nos transformar de crianças em adultos.

Agora foram-se as brincadeiras,as horas em meio a outras crianças fazendo apenas aquilo que gostávamos e vem para nós as responsabilidades,as contas, o mundo adulto.

Olhando hoje para trás parece pouco. Parece que apenas uma única vida seria incapaz de traduzir todo aquele tempo onde éramos apenas crianças.

Nossos filhos e netos jamais saberão como era aquela infância,coitados,estarão ali desamparados pela falta de espaço e segurança que tomou conta de nossas cidades impedindo que eles tenham uma infância ainda mais feliz em meio a outras crianças a bailar pelas ruas de onde moram.

E assim vamos,alimentando nosso coração de lembranças açucaradas atreladas a tudo de melhor que vivemos e que fará das nossas vidas uma porção inesquecível de saudade alegre e contida a nosso peito.