quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Choro de Lama



A lama segue seu curso,debaixo dela várias histórias vão sendo destruídas pela ganância e a ambição desmedida de empresas que tanto visaram os lucros e mais uma vez se esqueceram das vidas em jogo.

Há três anos foi em Mariana. Pessoas mortas,famílias devastadas e a certeza de que suas vidas não valiam de nada frente ao descaso das empresas e autoridades envolvidas.

A certeza se dá por apenas três anos após a tragédia de Mariana a história se repetir. Outra vez em Minas,dessa vez Brumadinho.

Debaixo da lama de rejeitos de Brumadinho agora a cada dia mais aumentam as vidas perdidas e ignoradas pelo descaso de resolução, na torta e irascível opinião deles as pessoas são menos importantes que o dinheiro e dessa forma se tornam descartáveis,se perdem em meio a mais um "acidente".

O solo brasileiro é mais uma vez a vítima desse descaso. Penaliza-se uma cidade de forma cruel,atravessam vidas de toda uma sociedade sem pensar no amanhã e em minutos,escasso tempo as vidas se perdem destruindo tudo o que se tem pela frente.

Quantas vezes não nos calamos e quantas vezes mais protestaremos por um breve período de tempo até que outra tragédia nos tome a frente das mídias sociais e nos traga nova indignação e tristes lembranças.

Simbolicamente não é somente a Vale a responsável por ter lá a sua barragem de dejetos,somos todos nós responsáveis por uma coleção de rejeitos que vamos cerceando e adicionando ao cruel e caótico mundo em que vivemos e que deixaremos aos nossos filhos.

Muitas vezes fechamos os olhos,deixamos passar adiante toda a luta do outro por um palmo de sobrevivência que só é revelado em meio a tamanha tragédia. 

Somos cegos seletivos. Cegos emocionais de algo que estava ali,escrito,pronto para acontecer,mas que só foi de certa forma revelado em meio a lama. Pouco a pouco lentamente escorria por entre nossos muros protegidos,pelas nossas mãos ávidas com a nossa atribulada e problemática vida,mas e aí? Adiantou de que?

Fomos enganados, não pela Vale,não pela Samarco,não pela crença triste,mas real de que as coisas vão mudar e que logo não teremos crimes contra a população como o ocorrido em Brumadinho,mas por nós mesmos, pelos nossos olhos que insistem em ver uma realidade totalmente oposta a que vivemos e pouco a pouco se curva a si mesmo para viver em torno do próprio umbigo.

Doí é fato,mas é fato de que é nessa hora de dor que crescem os discursos de respeito,de boa vontade,empatia,de solidariedade,por que não antes? Por que não fizeram o que tinha de ser feito?

Estamos sim tentando fazer a nossa parte,ajudar é preciso e necessário,contudo não é só agora,não é só nesse momento. Mariana não se esqueceu daquilo que viveu há três anos atrás,Brumadinho também não se esquecerá,mas e nós? Daqui a uma semana,um mês,vamos estar debatendo em nosso cotidiano que os animais estão sendo sacrificados a tiros por não conseguirem sair da lama? Estaremos falando que muitos corpos ainda estão sendo escondidos em meio aos rejeitos e que as famílias não terão nem mesmo o respeitoso direito de enterrar seus entes queridos?

Nos esqueceremos. Não por mal, é claro que não,talvez isso volte a tona com tragédias de igual proporção,piores,maiores e mais terríveis, uma lástima,uma droga letal que nos encaminha para um novo redemoinho de ideias e discursos sobre o que aconteceu,quando e onde.

Esquecemos como sermos solidários a dor do outro quando ela não nos convém,quando ela não mais se faz presente. 

A lama de Mariana revelou muita coisa em meio aos seus rejeitos. A de Brumadinho também certamente revelará a nossa covardia em não ter reclamado antes, em não ter ajudado antes,estava tudo lá,todo mundo sabia,mas fomos omissos e nos calamos por que haveriam outros pontos trágicos para se revelar ao mundo com a nossa indignação de momento.

O nosso choro atual é esse, infeliz,triste,indignado. A lama nos trouxe toda essa revolta mais uma vez,vamos esperar mais três anos para que a lama nos mostre o que somos ou os rejeitos de Brumadinho serão o suficiente?

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