quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Pv.Pergunta.Doc (Octávio Cardozzo)












(Dizem por aí que não existem perguntas totalmente certas ou tampouco respostas totalmente erradas,pensando nisso decidi sair perguntando por aí para conhecer boas histórias através de boas e más respostas.O Pv Pergunta vai buscar diferentes pessoas que se dispuseram a falar com o blog e contar as suas histórias sem qualquer custo. A todos o meu MUITO OBRIGADO)


Quem é : Octávio Cardozzo

Octávio é um cantor e compositor mineiro que ganhou notoriedade ao participar do programa ídolos em 2009.

Tem junto ao Projeto Alpercata o disco "Vela aberta" lançado em 2016 e o seu disco solo "Âmago" lançado em 2017 e tido por muitos críticos musicais como o melhor disco daquele ano.


Octávio,você surge para a música nacionalmente através do programa ídolos da TV Record em 2009 e hoje tem uma boa gama de apresentações em festivais,programas de TV,turnê fora do país, que diferenças você vê daquele Octávio que era um calouro de um reality pra hoje o Octávio que canta profissionalmente e que cresce a cada dia mais na carreira?

A grande diferença é que na época eu ainda tinha na cabeça a ideia de mercado musical das décadas de 70/80, de que alguém iria me “descobrir” e teria tranquilidade dali pra frente. Essa é a ideia de reality shows inclusive. Mas o mercado fonográfico mudou. Hoje eu entendo (e prefiro) que não existe mais a figura da gravadora, não somos mais dependentes dela. Tudo relativo ao meu trabalho passa por mim, e eu tenho consciência e conhecimento sobre todo o meu processo artístico. Dou pitaco em tudo (risos) e dessa forma cria uma estabilidade, né? 

Em algumas de suas entrevistas você afirmou que a experiência em programas como o Ídolos foi bacana para ganhar notoriedade, para atrair público,mas que hoje você não iria a programas do tipo. Muitos dos cantores que hoje se apresentam em barzinhos compartilham dessa sua opinião apesar de não terem ainda deslanchado na carreira como você, por quê essa relutância em deixar de lado um programa de âmbito nacional como é por exemplo hoje um The Voice Brasil?

No meu caso, é uma questão mais estética. O meu trabalho, a minha forma de cantar, de compor, enfim, não cabe mais nesse tipo de programa. Meu trabalho tem raízes na música brasileira, na forma de cantar tradicional do nosso país. Geralmente nesses programas, a maior influência é o canto norte-americano, que não é ruim, mas não é a minha onda. Outra coisa que eu digo é que esses programas tem uma visibilidade e uma base de fãs enormes. Vale a pena já ter um trabalho estruturado, um planejamento de carreira antes de ir, pois consegue aproveitar mais dessa visibilidade.

Temos em aqui em Belo Horizonte e em Minas Gerais um celeiro de artistas fantásticos que vão desde o clube da esquina até o pop do Skank,Jota Quest e tantos outros que atingiram um status nacional na música aos olhos do grande público.Há uma turma nova e talentosa em BH e em Minas Gerais  de uma forma geral, que tem feito trabalhos autorais belíssimos,mas que infelizmente nem sempre chega ao grande público,como fazer com que esses trabalhos tão bons e que talentos tão puros sejam reconhecidos?

Acredito que ainda falte um trabalho coletivo de nos reconhecermos como uma cena. Que os trabalhos são de qualidade não há dúvidas. Muitos dos nossos artistas, e eu também, fazem mais shows fora do Brasil, ou em outros estados do país, mas sempre num roteiro mais alternativo. Temos artistas independentes em BH que são famosos em Portugal, no Japão, fazendo shows em nível rock in rio. Incrível. Mas aqui não nos reconhecemos como cena e, consequentemente, o público também não reconhece, vão sempre nos mesmos shows, dos mesmos artistas.

No auge de seus vinte e sete para vinte e oito anos você é tido como um jovem cantor do cenário mineiro e belo horizontino,mas em seus discos vemos uma grande influência nas canções de cantores tidos como medalhões como Maria Bethânia,Ney,Elis e Milton Nascimento, até seu vestuário apresenta uma cultura hoje tida como mais clássica e poética,de onde vem essa influência para em tempos da música dominada por outros tipos de música e cantores você consiga se destacar com a sua musicalidade?

Eu sou formado em letras, né? Sempre me fascinou a forma de dizer as coisas. Na música não foi diferente. Todos os artistas que você citou tem esse cuidado, então fica clara a minha influência neste campo. Acredito que o brasileiro ainda possui sensibilidade para o tipo de música que eu faço. 

Seu último disco Âmago lançado em 2017 tem muito do cotidiano da nossa sociedade fazendo inclusive uma leve crítica a sexualização e objetificação do corpo feminino através da música "Anatomia" que fala justamente do corpo masculino em ritmo de jazz que é no Brasil um dos meios musicais mais machistas. A música cabe justamente para divertir fazendo pequenas ressalvas a reflexão daquilo que ela se refere ou é basicamente para ouvir e aproveitar a melodia?

Tem a reflexão sim. Inclusive, a escolha pelo arranjo jazzistico tem também esse objetivo. Essa música é uma grande chacota ao mundo machista. E ainda convidei um grande amigo, querido, gay, grande cantor, Marcelo Veronez, pra cantar uma música que fala do corpo masculino, com arranjo de Big Band, e duas mulheres na banda tocando jazz. Isso é muito massa! 

Seu disco foi lançado através do financiamento coletivo,que para alguns é o crowdfounding ou a chamada vaquinha. Dava pra imaginar que tanta gente ia te ajudar com um projeto solo seu,para estar lá ouvindo a sua música e qual a satisfação que você tira do sucesso desse financiamento?

Foi incrível. Claro, tive várias críticas de pessoas que não entendem ainda o quanto a cultura é necessária. Algumas pessoas falando que eu tava pedindo dinheiro, etc. Mas o resultado foi tão positivo, tantas pessoas envolvidas, que no fim isso é o que vale. A generosidade das pessoas e o entendimento de que aquilo que eu faço é importante na vida delas, e que eu poderia retribuir de alguma forma para suas vidas. E o disco nasceu. Acredito que a maioria tem muito orgulho de ter feito parte disso.

No Brasil atual muito se crítica as canções sem letra e que caminham mais pelo lado da sexualidade ou apenas da batida. Suas canções tem muito do Octávio cantor que vive na atual sociedade,mas ao mesmo tempo tem a pegada do intérprete que dá a sua cara a música. Existe diferença entre o cantor e o interprete ou dá pra fazer música das duas formas sem diferenciar?

O intérprete também é um cantor, né? Acho que a grande diferença é o cuidado que se tem com a canção: tudo tem uma intenção... como você respira, se canta mais sussurrado ou mais empostado, se coloca uma pausa aqui ou ali. Nós intérpretes temos essa preocupação em comunicar, em fazer com que o público entenda o que queremos dizer e como queremos dizer

Seu disco teve uma grande aceitação em países como Estados Unidos,Japão e Portugal,esse último inclusive com uma pequena turnê de onze shows com previsão de volta para 2019. Apesar de ser um cantor que tradicionalmente tem muitas raízes com a música nacional, há pretensões de gravar em outras línguas até como uma forma de se aproximar do seu público nesses países e há diferença dos shows no Brasil para um show em Portugal por exemplo? 

Nos EUA e Japão eu tive a surpresa de serem os países que mais consomem a minha música, compram mesmo, no iTunes ou no disco físico. Vou lançar uma tiragem do “Âmago” exclusiva para o Japão. Mas os países europeus têm mais essa coisa de fã, de acompanhar, de querer conhecer mais da minha vida. E por isso pude ir pra lá, e foi incrível! Uma alegria enorme ver que o meu trabalho é tão bem aceito por lá. A grande diferença é que lá eles têm um interesse maior. Claro, somos estrangeiros lá, é natural. São carinhos diferentes (Risos), mas pretendo gravar um disco em Italiano um dia. Nesse ano irei pela primeira vez tocar na Itália. Vai ser o meu primeiro contato com esse sonho de gravar em italiano.

A definição de âmago diz que é o componente ou a parte mais particular e íntima de um individuo. No seu disco temos a junção da canção de diversos artistas que acabaram por formar junto a sua interpretação cantando as canções,mas com uma roupagem sua e com toda uma história por trás dessas canções. (Sim,eu li todo o release e ouvi o disco algumas para não dizer muitas vezes), podemos dizer que o âmago do Octávio foi todo extraído ali nesse disco interpretando essas canções ou isso ocorre a cada show quando você se entrega as canções as interpretando com a sua visão delas?

O disco é o que existe, ou existia, de mais íntimo em mim naquele momento. Fala de coisas que nunca falei, que sempre quis falar, e que era preciso falar naquele momento em que foi feito. São as coisas que eu estava vivendo e observando naquele momento, mesmo sendo músicas de outros compositores. Algumas músicas foram feitas exclusivamente pro disco, e pro que eu queria/precisava dizer

Falando em situações de palco,muitos cantores passam por situações constrangedoras ou gafes magistrais, você já passou por algo assim?

Todo show! (Risos) Na gravação do meu DVD, por exemplo, comecei a contar um caso da minha vida e, quando dei por mim, tava contando da minha vida sexual pro público (Risos) eles adoraram, mas foi inusitado. Mas sempre acontecem tombos... eu tenho mania de cantar enrolando o cabo do microfone no pescoço e no meio do show eu já tô todo enrolado, tropeço nos fios (Risos),quem conhece já fica esperando as gafes.

Ah e conta desse DVD por que em toda a minha pesquisa da sua carreira nesses dias eu não estava sabendo dessa parte

É que não foi lançado ainda (Risos) em outubro (de 2018) eu gravei no Teatro Bradesco o DVD do meu novo show, “Sertão elétrico”, onde eu canto canções de Maria Bethânia. O amor e o sertão na obra de Bethânia. Tá ficando bem bonito e lançamos em fevereiro (2019)


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