segunda-feira, 3 de julho de 2017

Quando eu soube que não era invencível


Ah doce ilusão essa que nos faz pensar por algum breve momento na vida que conseguiremos passar imunes aos problemas que a vida nos sugere.

Que tudo aquilo de ruim que vemos em nossos telejornais não vai chegar até a gente ou como gostamos de dizer: "Isso não vai acontecer comigo"

Aqueles problemas que vemos distantes parecem que nunca chegarão até aqui e ficarão para todo o sempre lá, num país vizinho, com outras pessoas, se muito com um conhecido e daqueles conhecidos ocasionais.

Nos arriscamos a todo momento.

Vai lá enche a cara e pega o volante e acreditando que nada vai acontecer...

Blitz,acidentes,tragédias,lesões sérias, morte.. com a gente? Imagina! Tem gente que acha pior os pontos na carteira do que no meio da das costas suturando a médula espinhal.

Vai transa sem proteção! Tem gente que acredita mesmo que filho é o pior dos caminhos, sem fazer ideia de como uma doença pode mudar a vida de cabeça pra baixo.

Pode encher o corpo de drogas ilícitas afinal só morre de overdose astro de rock, artista prodígio e aqueles noias lá da cracolândia.

Água parada no pneu do fundo do quintal? pra que tirar, o mosquito da dengue não vai com a minha cara e nunca vai me infectar.

Ansiedade, depressão, coisa de gente rica, pobre tem disso não, no máximo vai trabalhar a maior parte da semana por um salário que mal mal vai pagar as contas do mês, preocupar pra que?

Achei que a crise da idade não chegaria..Tolo engano

Temos essa mania de acreditar até os meados dos vinte anos que vamos suportar tudo, resistir a tudo e que não vai acontecer nada ao nosso invencível corpo que nos impeça de estar firmes e fortes no dia seguinte.

A medida que crescemos e para os casos sinceros onde AMADURECEMOS passamos a ver a vida com outros olhos e notamos que já não somos mais tão invencíveis assim.

Se antes um pé na bunda no máximo me empurrava pra frente e encher a cara numa quinta era normal pra pegar serviço na sexta pela manhã era mero costume, pois bem, as coisas mudaram.

As odiosas horas de trabalho e cansaço se compensavam com dinheiro recebido ao fim do mês,até por que mesmo com toda a saudade da comida e do carinho da mamãe valia a pena não ter hora pra voltar pra casa e comer a comida congelada feita no microondas.

Os fins de semana então pareciam festas eternas começadas nas quintas feiras e encerradas ao domingo até por que assistir televisão no domingo era apenas para parar e ver o jogo de futebol no fim de tarde, tudo lindo, tudo maravilhoso e até o amor não parecia ser toda aquela caixa de pandora que diziam por aí.

Não pareciam, mas pois bem, nos aproximamos dos trinta anos e passamos a olhar adiante num futuro já desconhecido e com novas e custosas responsabilidades que arrombam a porta enquanto as oportunidades cada vez mais raras escassas passam na velocidade da luz e a vida já não parece mais tão legal e divertida como nos vinte e poucos anos.

É a época onde passamos a ver o casa e separa de casais em busca da tão procurada alma gêmea, da mesma forma que vem filhos e o mundo parece já não te amparar e gostar de você como antes.

Sim, parece que a cada dia acordamos tomando uma pancada nova,mas com o fio de esperança de que no fim de tudo valerá a pena e teremos muito o que festejar no futuro.

Talvez a essa altura da vida notemos que perdemos alguns pequenos anos de vida e acabamos ou por nos formar em alguma coisa nada a ver com o que queríamos ou até não nos formamos acabando caindo na rotina de escravos assalariados que se levantam cedo diariamente temendo perder o pouco que conquistaram antes de atingir os temidos trinta anos.

Por mais que neguemos a jovialidade tem algo de belo que acaba trazendo um frescor inexplicável independente de chegarmos a uma certa idade atingirmos um lado bom da vida.

Basta dar um giro por fotos antigas, ou até mesmo nos encontrar com amigos que nos conheceram de tempos atrás e verá que não foram apenas as espinhas adolescentes que deixamos para trás, mas toda uma inocência de quem não pretendia fazer nada demais,mas sonhava alto, desejava muito e que por ventura do destino pode não ter conquistado um terço daquilo tudo o que pensava.

O corpo já não tem mais aquele aspecto esbelto, talvez o sorriso tenha se restringido para algumas pessoas, afinal agora nosso sorriso revela um pouco mais da alma e rugas que antes não desejaríamos e sequer tencionávamos ter.

Ao envelhecermos imaginamos que junto vem um botãozinho vermelho que é automaticamente apertado para que também possamos amadurecer, mas veja só que tolice, alguns amadurecem mais cedo, outros nem mesmo amadurecem e fica difícil saber se isso é bom ou ruim.

Amadurecer cedo demais pode nos fazer envelhecer muito cedo. Crianças com pensamentos maduros teriam talvez o pensamento de velhos quando beirassem o medo. E aquele sabor de fruta mordida na juventude, vira uma uva passada, jogada ao tempo e a um sabor de velho, ultrapassado.

Talvez a vontade seja de deitar na cama ao fim do dia em posição fetal e chorar até de manhã. Atitudes não vão voltar, palavras que deveriam ser ditas já não vão ser ditas novamente, ficamos lá pensando no herói que pensamos ser um dia e acabamos descobrindo que talvez o tempo todo nós eramos a mocinha a ser protegida, mas sem qualquer tipo de proteção.

Dá vontade de jogar tudo pro alto, inventar uma máquina do tempo e acordar dez,quinze, vinte anos mais jovem, mas se você realmente amadureceu não vai pensar nisso, vai encarar isso tudo sem choro e nem vela aguardando ora o tiro fatal que mate a crise dessa idade pós adolescência perdida ou algo que faça o sorriso deixar de ser amarelo e que se colora com brilho tal como deve ser.

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